22 de julho de 2011

O cabelo afiado de COFFY

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Coffy preparando o ataque

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Ataque Efetivado

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THAT'S .A BINGO!

21 de julho de 2011

Cinema - Attenberg

Por: Lucas Sá
A beleza perfeita e idealizada dos corpos das
esculturas gregas encontra sua estranheza.
Durante os três últimos anos a Grécia vem se tornando um pólo sustentável e disseminador de excelentes filmes. Attenberg, que a pouco foi escolhido para representar seu país no Oscar 2012 e que ganhou o prêmio de melhor Atriz no Festival de Veneza em 2010 pela atuação da estreante Ariane Labed, com Tarantino na presidência do júri, se revela como um empreguinador de certas tendências temáticas e estéticas que anos antes já se permeava sobre o cinema grego. O de causar reações incógnitas e choques através de situações e ações estranhas por parte de seus personagens incompreendidos.

Este é o primeiro filme da diretora Athina Rachel Tsangari a ganhar reconhecimentos mais amplos, seu filme anterior, The Slow Business of Going, quase não se tem informações precisas ou até mesmo o seu trailer. Attenberg, bebe abruptamente da fonte de um dos filmes dessa tendência deste ano, Dentes Caninos. A todo o momento, durante a projeção, cenas e situações de Dente Canino adentravam ao meu pensamento, desde a minha primeira visualização da arte do cartaz até a cena final, eu não parava um minuto de relacioná-lo com o excelente Dente Canino. As disponibilizações dramáticas da protagonista e de sua amiga, são semelhantes ao estado emocional dos jovens que são presos em suas casas por seus pais desde o nascimento para não terem contato com a sociedade externa e mundana. Cenas como a dança de Marina no quarto do hospital onde seu pai está internado, faz uma intima ligação com a cena das duas irmãs e suas danças bizarras inspiradas pelo filme Dirty Dance, em Dente Canino. Até mesmo a mise en scene da câmera em relação ao espaço físico, comprova esta ligação conclusiva da nova "tendência" do cinema grego. E é nos créditos finais de Attenberg que me deparo com o nome de Giorgos Lanthimos, como um dos atores do filme, no caso, um homem com quem Marina tem suas primeiras experiências sexuais masculina. Lanthimos, que é nada mais do que o próprio diretor de Dente Canino! E foi pesquisando afundo que percebi que não existe só uma ponte estética de ambos os filmes, mas há também uma intimidade profissional, já que a diretora Athina Rachel Tsangari também foi uma das produtoras do filme de Lathimos, este que não só atua, mas também restabelece a parceria produzindo Attenberg. Logo, ambos formam um grupo de influências no mínimo esquisitas, com fortes influências do estilo fílmico do diretor austríaco Michael Heneke. Estaria nascendo um novo manifesto ou cinema de escola? A escola dos anos 2000? Grega?
Ao contrário de Dente Canino, o longa de Athina Rachel, não busca motivos racionais para explicar o comportamento e os sentimentos de sua protagonista, Marina (Ariane Labed). A cena inicial é um exemplo dessa brutalidade narrativa que permeia constantemente as cenas de seu filme. Uma parede branca com desgastes de tinta é enquadrada, duas moças aparecem, são Marina e sua amiga pervertida Bella, ambas iniciam um beijo com línguas desordenadas e lambidas desengonçadas, objetivo? Sabermos que Marina nunca obteve relações emocionais ou sexuais com qualquer humano, a não ser com sua amiga Bella, mas ai não é emocional, é apenas experimental e didático. Aprenda como beijar, aprenda como tocar, aprenda como chupar... Está é a única deixa que talvez seja a causa das possíveis atitudes esquizofrênicas de Marina, e esta não é nem de perto a causa mor de Attenberg, mas sim a relação da mulher com o sexo, com o homem e os membros carnudos de copulação. Marina e Bella formam um conjunto de idéias rebuscadas sobre o ato sexual e seus mistérios imbecis, ou tabus. Como a própria protagonista afirma: "Algumas coisas deveriam permanecer em tabu...”

Em Attenberg, a carga dramática não se apresenta nas palavras e nem nos diálogos, estes são curtos e objetivos. Ariane Labed interpreta Marina de maneira fria e inorgânica, suas feições faciais são estáticas e não demonstram sentimentos exarcerbados, até mesmo no ato sexual com o personagem de Lathimos. Assim, são os corpos e seus movimentos que atribuem aos personagens algo que não chega a serem emoções, mas sim caráter do mais sujo e animalesco possível. Athina Rachel estabelece no roteiro a constante relação do homem como animal, como mamífero selvagem, fato que é presenciado em inúmeras cenas, como segundos depois do beijo bizarro da cena inicial, onde as duas se tornam felinos (onças ou gatos?) e começam uma briga com rangidos e gritos selvagens. Fundindo o beijo e as ações felinas, Athina Rachel, consegue teorizar em imagens, todo o contexto de seu filme em apenas uma única cena de abertura, no caso, a relação da mulher com o sexo e o homem como animal amazônico. Poderia citar no mínimo mais cinco cenas em que Athina Rachel nos joga na cara essa relação selvagem, mas uma em especial me fez lembrar outro filme. A cena em questão é uma sequências do pai de Marina e a própria imitando vários animais enquanto assistem um documentário sobre gorilas na TV, do diretor David Attenborough, sendo este o motivo do título do filme. O filme que me recordo de ver algo parecido, pessoas imitando animais como ato sexual, é a clássica cena de Paul e Jeanne em O Último Tango Em Paris, do Bertolucci. Os corpos dançantes em Attenberg também podem se revelar importantes na trama, como nas constantes cenas de Marina e Bella dançando coreografias bizarras que intercalam uma cena a outra. Movimentos que me fazem recordar novamente a dança freak das duas irmãs em Dente Canino. Logo, o corpo e suas articulações falam mais do que a boca. É a palavra sendo contestada pela carne. Mas, mesmo a carne sendo o elemento principal para maiores atos dramáticos e explicativos, o rosto, que faz parte desses corpos, não entra neste contexto, já que em toda a projeção ele permanece intacto e rígido, não permitindo criar espaço para emoções passageiras e banais. Mesmo com a previsão de que seu pai vai morrer, fato que fica claro desde o princípio, sua relação é distante, com exceção de uma única cena, a final, onde Marina joga as cinzas de seu pai no mar. Seu rosto se desmorona por instantes, mas ainda sim continua intacto e extremamente frio.
O próprio pôster de divulgação do filme revela essa interação do cinema com o corpo. Na arte podem ser visualizados apenas os ombros da protagonista, em uma posição rígida e incomum. Mas seu rosto, "o cinema é dos rostos! Dos códigos do rosto...", como disse o diretor Peter Greenaway, Não aparece. Falando nisso, o pôster do filme foi minha principal motivação para vê-lo, é bastante instigativo e aguça a curiosidade de quem o vê. Este também teve forte ligação com a frase do Tarantino, quando o mesmo entregou o prêmio de Melhor Atriz em Veneza para Ariane Labed, ele disse: “Ficamos encantados pelo filme, que cresceu vagarosamente na nossa consciência. Não sabíamos que prêmio dar até começarmos a discutir melhor atriz. Aí ficou evidente que tinha de ser este, porque todo o filme é construído sobre seus ombros!”.

Outro elemento que ultrapassa a barreira do corpo são os objetos. A questão do sexo no contexto social é revertida em Attemberg para os objetos, uma relação de ambiguidade linguística e significativa. Como nas cenas de vários esguichos de água em jardins, que podem ser vistas como o sêmen masculino sendo arremessado pelo canal peniano. A água que rega e que permite disseminar as plantas ao seu redor se torna o sêmen, o elemento criador dos homens. Não é só aqui que o sexo está ligado a natureza. Em uma cena Marina corta pedaços de babosa e de dentro delas tira uma gosma semelhante a textura do sêmen masculino que em seguida a passa nas mãos de seu pai doente. Há também em um dos poucos diálogos longos do filme essa relação homem/natureza novamente, onde Bella afirma que sonha com árvores que os frutos que saem de seus galhos são pênis dos mais variados tipos. Mas em Attenberg, o que importa são os corpos!

- Algo como uma enorme pereira cheia de pênis...
Só que em vez de pêras, elas tinham pênis pendurados.
- Como assim?
- Grandes, pequenos, médios... Enrugados... Eretos, leitosos e suculentos. Alguns curvados à esquerda, alguns à direita, alguns com prepúcio, outros sem. Árvores com pênis. Árvores de pau!

18 de julho de 2011

Atividade Paranormal Aracaju: Entrevista com Marlon Delano





Por: Lucas Sá


É a vez de o Brasil ter sua versão do filme de sucesso Atividade Paranormal! Com poucos recursos e em apenas uma noite, o diretor Marlon Delano, realizou um curta no mesmo estilo documental dos filmes desse novo estilo cinematográfico, que para mim, já está se tornando um gênero enraizado. Com 14 minutos de duração e a câmera-personagem, Atividade Paranormal Aracaju consegue manter-se tenso a todo o momento, atribuo isso, sobretudo, a atuação de Samara Peixoto, que me fez sentir com clareza o tormento sobrenatural que persegue sua personagem. Até em certos momentos cômicos, protagonizados pela própria Samara, o curta não se deixa levar a essa linha tênue que é o terror perante a comédia. Atividade Paranormal Aracaju foi realizado para o concurso cultural da distribuidora nacional Playarte, do filme tributo do original, que se passa em Tóquio, ao qual Marlon Delano foi o vencedor, faturando 5 mil reais e reconhecimento nacional, já que seu curta está sendo comentado em inúmeros canais midiáticos. Abaixo, realizamos uma entrevista exclusiva, por email, com o próprio realizador do curta, Marlon Delano, jovem que está no 6º período do curso de graduação em Audiovisual na Universidade Federal de Sergipe (UFS).

LV: Qual foi o custo e período de produção do curta?
Delano: Quando eu soube do concurso faltavam apenas 4 dias para o fim das inscrições que era por link no videolog, então foi tudo bolado nas pressas. Tive a idéia ter dois irmãos, já que na época Samara estava morando comigo temporariamente, o engraçado é que depois eu soube que o Atividade Paranormal Tóquio também eram sobre dois irmãos. Gravamos em uma única noite, na noite seguinte só refizemos umas 2 cenas tudo muito rápido e corrido, o custo da produção foi de R$1,50, do litro de álcool que comprei na vendinha perto de casa para a cena do fogo. Depois corri pra editar e postei o vídeo no último dia, acho que no total foram dois dias de produção.

LV: Em Atividade Paranormal Aracaju, vemos uma forte tendência ao gênero horror e ao novo estilo pseudo-documentário, como os filme REC, O Caçador de Trolls e Cannibal Holocaust. Além desses gêneros, quais diretores e filmes você é influenciado em suas obras em geral?
Delano: Então, o curta foi no estilo documental para seguir a linha do filme original e foi uma experiência legal, pois há algum tempo eu já tinha a idéia de fazer algo assim, então foi um empurrão, o chato é que tive que atuar, foi péssimo, não nasci para ser ator (rs). Eu nunca fui muito de me influenciar por outros diretores, não por querer ser original, nem nada disso, mas é algo que nunca parei para pensar, tipo seguir o estilo de “alguém”. Eu adoro filmes de drama e também de filmes pesados e densos, que te deixam pra baixo embora nenhum de meus curtas tenha sido ainda nesse estilo, gosto muito do trabalho do Esmir Filho, ele faz filmes sobre adolescentes de uma forma que faz agente realmente se lembrar de como eram as épocas de escola e dos 15 anos, gosto muito do trabalho dos caras do Trincheira Filmes de Recife, ao qual já tive a oportunidade de conhecê-los pessoalmente, mas resumindo, não sigo nenhuma linha, apenas faço o que vem na mente.

LV: Em seu canal no youtube, pode ser visualizado o teaser de alguns curtas, como o “Pupas”. Sobre o que é essa produção e o que você pretende fazer depois do sucesso de Atividade Paranormal Aracaju?
Delano: Tenho também o canal www.youtube.com/lastimus que tem uns trabalhos mais antigos e mais vídeos como os meus de desenhos e manipulações no Photoshop. O Pupas é um roteiro que escrevi para o futuro, ainda não tenho condições de fazer o filme, não é um filme difícil, mas eu quero muita realidade nele. Pupas, trata de abduções, mas não aquelas de mostrar naves mirabolantes ou ETs, é algo mais psicológico também, tenho também um teaser do A Última Fronteira, que foi um roteiro escrito para uma aula e que tirou nota máxima, era uma historia que eu tinha escrito na 8ª série, então só dei umas adaptadas, futuramente pretendo colocar ele para frente, é um filme pesado emocionalmente, tem algumas viradas que meus professores acharam geniais, então acho que é um roteiro com potencial. Não sei se o Atividade Paranormal Aracaju foi um sucesso (RS), muita gente amou e muita gente odiou, acho que está meio a meio, ele tem muitas falha, mas atribuído a correria que foi e toda a improvisação, mas gostei muito da experiência com o suspense, embora eu assista muitos filmes do tema nunca tinha feito nenhum, estou pensando em fazer um próximo trabalho com algo do tipo.

LV: No curta você utilizou variadas peripécias para realizar as trucagens macabras que atormentam a personagem da atriz Samara Peixoto. Você pode descrevê-las? E quais eram as outras que você pretendia colocar, mas que por motivos de tempo não foram postas na edição final do curta?
Delano: Pois é, primeiro coloquei a cena clássica da porta abrindo e fechando sozinha, eu fiquei atrás da porta e eu mesmo abri e fechei, o difícil é que quando fizemos muitas cenas só tinha eu, ela e meu amigo Cleiton Lobo, que só chegou um tempo depois para ajudar. Depois tem a cena das luzes que ascendem e apagam, a cena do fogo, que foi o gasto de produção de 1 real e 50 centavos(rs), fui comprar na mesma noite por que não tinha álcool em casa, então joguei no chão e toquei fogo, na edição eu só fiz inverter a cena, então é como se o fogo surgisse do chão. Logo em seguida vem a cena que eu mais gosto, a da cama se mexendo com ela em cima, foi meu amigo Cleiton que moveu a cama. A cena final, em que eu e Samara somos arrastados foi ele também que arrastou ela junto comigo. As cenas que eu queria fazer era algo flutuando e caindo na cozinha, queria também ter feito algo com vento abrindo todas as portas de vez, e também ter feito algo com sangue. Muitas das pequenas idéias que vinham na hora acabavam sendo inviáveis devido ao tempo.

LV:Voltando para o lado acadêmico. O que está achando, até o momento, do seu curso de graduação em Audiovisual na Universidade Federal de Sergipe (UFS)?
Delano: Não só o curso de Audiovisual da UFS, como também todo o departamento de comunicação estavam passando por muitas dificuldades, sem equipamentos, salas adequada, professores e sempre que solicitávamos algo nunca era concretizado. Alguns professores nossos tentam ajudar, alguns compraram equipamentos do próprio bolso para darem aula, então foi preciso medidas drásticas, até que resolvemos ocupar a reitoria. Invadimos e acampamos por quase duas semanas, só sairíamos quando o reitor se pronunciasse em uma assembléia pública e cedesse o material que precisaríamos. O interessante é que na sala dele encontramos vários pacotes de programas que usaríamos para edição, além de lentes e câmeras... Enfim, uma putaria. Então houve a tal assembléia e a secretaria da educação deu dois meses para eles conseguirem tudo que precisávamos. E rapidinho tudo mudou! Eu estou indo para o 6º período e digo que só agora vou começar a ter aulas de verdade.

LV: Você é um dos jurados do festival sergipano tr3s.minutos. Como surgiu o convite e o que você espera do resultado e das dimensões que o festival vai lhe proporcionar?
Delano: Quem começou a organizar o festival foram alguns amigos meus de turma, o festival, assim como também o Sercine, Festival de Cinema Universitário, foram criados por alunos em parceria com o NPD Orlando Vieira, com competência muito grande. Está dando resultados muito positivos, maior do que esperávamos. O convite surgiu numa simples pergunta, “Marlon você quer participar do festival como concorrente ou quer ser um jurado?” Então pensei rapidinho... Decidi ser jurado, até por ser uma experiência nova e como eu já participei de muitos festivas estava a fim de sentir como é a emoção de estar do outro lado e aprovar ou não os curtas. Em agosto irei ministrar uma oficina de vídeo digital e participarei da mesa de debate como realizador sergipano, eu sou o maior crítico de mim mesmo, às vezes sou muito inseguro, mas o pessoal me dá muito apoio e incentivo, sou um cara de sorte (rs). Com o crescimento desses festivais creio que em breve Aracaju começará a ser mais conhecido no meio cinematográfico, sendo que longas e novelas já foram rodados nas terras de “Serigy”. Orquestra dos Meninos, Aos ventos que Virão, O Senhor dos Labirintos, Tieta, Cordel Encantado são alguns exemplos. Existe também há 11 anos o Curta-SE, Festival Ibero Americano de Cinema, no qual fui selecionado ano passado com o curta Sede e Saudade e esse ano com o curta Lembranças, agora é torcer, mas esse ano está bem acirrado, pois as produções aumentaram, graças a divulgação de nossos trabalhos aqui em Sergipe. E é isso, valeu!

13 de julho de 2011

Cinema - Cilada.com


Por: Lucas Sá

Da série, só resta o nome "cilada" e seu criador, apenas.

Mais uma vez a programação das TVs invadem os cinemas. Artimanha de marketing já conhecida da produtora major Globo Filmes, que da mesma forma transformaram séries de sua grade horária em filmes de grande sucesso de bilheteria...... Apenas dinheiro, parando por ai. Dentre esses filmes estão Os Normais (1 e 2) e A Grande Família - O Filme, produções que por mais que sejam realizadas para os cinemas, não se desapegam da linguagem didática televisiva. Assim, o canal musical de extensão da rede Globo, o Multishow, promove a realização de seu quadro de longa data, Cilada. Estrelada pelo o ator Bruno Mazzeo, filho do ilustre comediante Chico Anysio, que do pai não herdou muita coisa, uma pena.

Cilada, produção com cinco temporadas do Multishow, foi se tornando alvo dos olhares da superior Globo a medida que seu ibope ia crescendo nas noites em que era exibido, indo ser parte por meio de pequenos intervalos de tempo no programa Fantástico aos domingo. Essa elevação do programa, consequentemente do ator Bruno Mazzeo, foi gerando expectativas cada vez mais globais para a realização do longa, que como comentei, é uma das táticas esperta e sagazes da rede Globo para alavancar rios de dinheiro dos cinemas nacionais. Cilada.com já faturou mais de 5 milhões apenas em sua estréia no final de semana, se tornando a maior abertura do ano no Brasil e ocupando a sexta posição desde a chamada retomada do cinema nacional. Mas não foi somente a transposição do programa de um canal para outro que possibilitou Mazzeo a realizar o longa de sua obra, antes disso, em 2010, Mazzeo junto Rosana Ferrão, roteirizaram o filme Muita Calma Nessa Hora, esse que se tornou um dos grandes sucessos de público e capital do ano. Fato este, que implicou nos interesses da grande emissora a realizar a obra, dessa vez mais pessoal, de Bruno Mazzeo.
O longa apenas não é mais um programa como também não atraiu nada da estética e das intervenções de suas origens. Cilada, o programa, era uma espécie de histórias curtas de um cara azarado e seus relacionamentos com os demais, que como sempre, acabavam em "cilada". As piadas eram banais, mas sinceras por vezes, que enquanto iam sendo emitidas para o telespectador ocorriam interrupções da narrativa, de Mazzeo caracterizado de outro personagem de fora do enredo, como uma empregada doméstica, um bombeiro, um professor da USP, e por ai vai. Esses eram os momentos mais divertidos e engraçados do sitcom, já que continham um tom documental, logo, mais realista, mesmo que absurdos. A produção da série era modesta, se percebia pela as cenas, a mídia usada para a gravação, e até mesmo na animação tosca de abertura. Com os milhões para realização do longa, essa precariedade de capital, é esquecida e incorporada em planos esteticamente enquadrados e contemplativos, como as cenas em que Bruno e seu amigo Sandro (Augusto Madeira) conversam ao alto de um prédio sobre o seu rompimento amoroso. Cena que abusa de um plongée altíssimo e desnecessário, assim como a fotografia estourada das luzes incandescentes da partida de futebol e da cena inicial do casamento. São esses aspectos "profissionais" que diferenciam a produção de TV para a do cinema, mas neste caso, esse arrojamento decorativo é usado na trama de forma infeliz, desviando o nosso foco, no caso o humor escrachado, para detalhes de cena, como planos belos e objetos estrategicamente emoldurados.

O aspecto trash da série era um elemento de aparato que justificava as piadas banais do roteiro. De Pernas Pro Ar, outro sucesso de bilheteria nacional, é um exemplo de como esse desleixe de elite acaba se tornando o melhor do humor abusivo. No filme, Ingrid Guimarães se torna uma profissional de vendas de aparelhos sexuais, após ter perdido o emprego e o marido. É uma trama corriqueira e banal, eu a subestimei inúmeras vezes antes de assisti-lo, mas após a sessão minha cabeça doía de tanto rir. Ingrid utiliza o seu humor clean moldando-o ao trash, tanto da trama quando da produção, resultado, um filme engraçadíssimo e que consegue levar as piadas repetitivas de maneira nova, mérito de Ingrid. Em Cilada.com, o que eu via não era um filme realizado a partir de uma série, mas sim um filme feito pelo próprio filme, tanto que poderia ser facilmente intitulado com outro nome,, nenhum fã do programa original ia se dar conta. Até mesmo o par romântico, Débora Lamm, é substituído por Fernanda Paes Leme, que a tempos não se via nem na TV e nem no cinema. Débora Lamm aparece apenas em um pequeno trecho do filme, onde o personagem pede para suas ex-namoradas falarem "bem" de sua pessoa para as câmeras. Esse caráter é constante, o de "pequenas participações" (Especiais?), o que acaba incomodando o fluxo da narrativa das ações e das piadas, que se tornam cada vez mais idiotas e sem ritmo cômico, outra vez o desvio do foco ataca! Da série, só resta o nome "cilada" e seu criador, apenas.

Cenas como a do comediante Fernando Caruso (lembram do "Olha o Lula indo! Olha o Lula vindo!”?), em que ele está contando piadas sobre o vídeo constrangedor do protagonista em um show de stand up, se tornam estritamente desconexas e questionáveis, algo como se Bruno tivesse escalado o ator e amigo, apenas para homenageá-lo e enfeitar a trama. Outro caso é a participação da também comediante Dani Calabresa, fazendo o papel de uma apresentadora de um programa sensacionalista, Regina Kelly. Sua personagem é um pouco mais desenvolvida, não pelo filme, mas por Dani, que já havia apresentado essa mesma situação de forma semelhante em seu programa na emissora concorrente, em uma espécie de imitação do programa baixaria, Superpop. Mas adivinhem? Dani Calabresa não arranca um riso se quer, não só de mim, mas do público inteiro da sala de exibição em que vi, logo ela que acredito ser um dos maiores talentos do humor nacional atualmente, ao lado de sua parceira de trabalho Tatá Werneck. É nesse sentido que o filme se assemelha a produção anterior de Bruno Mazzeo, Muita Calma Nessa Hora, onde a trama é permeada por essas "participações" prematuras de vários humoristas nacionais, como Marcelo Adnet, Sergio Mallandro e do próprio Mazzeo. É interessante essa abertura democrática das produções globais para com os humoristas de outras emissoras, já que Calabresa e Marcelo Adnet são humoristas contratados da MTV.

Luis Miranda, ator que aparece em ambos os filmes, Cilada.com e Muita Calma Nessa Hora, é alvo dessas interseções sem motivos no caminho da história, mas sua atuação supera essa falha constante do roteiro, tornando a clássica e reutilizada cena do pai de santo a mais engraçada do longa. Enfim, saiu algumas risadas da minha boca com Miranda, e aconteceu o mesmo em Muita Calma Nessa Hora, onde o ator faz um travesti, Buba, que vende bebidas coloridas pela a praia de Buzios.

Percebo que escrevo como se o filme fosse mais de Bruno do que o seu próprio diretor, José Alvarenga. E é! Mazzeo acima de José, que já dirigiu os filmes da série Os Normais e Divã, transforma Cilada.com em um show de piadas que beira o bizarro e o escatológico, claro que não chega a ser um John Waters, mas o teor cômico e sexual do filme torna um tanto quanto imbecil e infantil até mesmo o suposto amor do par romântico da trama, sentimento que por si só já é rebaixado enquanto afeto cinematográfico. Todo o charme e sutileza cômica que Divã conquistou quanto filme, o seu diretor, José Alverenga, não utilizou em Cilada.com. Tornando-o tão imediato e passageiro quanto um vídeo de 1 minutos da Luisa Marilac no youtube.

12 de julho de 2011

E que venha Brillante Mendoza! - I Festival LUME de Cinema

Por: Lucas Sá
São Luís agora tem mais um festival de cinema em sua programação anual! A primeira edição do Festival Lume de Cinema esta chegando, faltam apenas 2 dias para começar as atividades, que além de filmes e curtas nacionais também exibirá filmes de vários países, tornando-o um festival com caráter internacional e abrangente. Fato que é relevante para os espectadores, já que são poucas as obras fora do eixo EUA-BRA que são exibidas no estado, a não ser através das sessões do reformulado Cine Praia Grande.

O Festival LUME é uma extensão das atividades já existentes da produtora (Lume Filmes) de seu criador e coordenador, Frederico Machado. A LUME Filmes, excepcional distribuidora de títulos raros, como os filmes Sozinho Contra Todos (Gaspar Noe) e Crash (David Cronenberg), é uma das distribuidoras de DVD mais importantes do mercado nacional. Além de distribuir, passou a produzir curtas, como o premiado Vela ao Crucificado, do próprio Frederico. Então qual seria o próximo passo da LUME? É ai que surge um projeto antigo e de extremo desejo de Frederico, um festival de proporções e exibições internacionais! Em sua primeira edição o festival terá em sua grade de programação atividades que poucos festivais conquistam em seus primeiros anos, mais de 6 mostras paralelas em 10 dias de exibição, entre os dias 14 e 23 de julho.

Na abertura do festival, dia 14, irá ocorrer uma das mais importantes contribuições do festival para o cinema maranhense. O filme a ser exibido é Lola, com a presença do próprio diretor, o filipino Brillante Mendoza. Este que passou de pequenas proporções, com seu filme O Massagista, até se estabelecer como um dos diretores mais ativos e representativos do continente Asiático. Lola é sem dúvidas o filme mais sentimental de Mendoza, que mesmo com seu teor realista e melancólico sobre a realidade de seu país, acaba utilizando uma carga honesta de violência e a relação dos homens, neste caso, as avós, com a morte. Tema que é bastante recorrente em suas obras, como em Kinatay (crítica aqui) e O Massagista. Em Lola, acompanhamos intimamente duas avós e as suas ações em relação ao assassinato de um jovem. Uma é avó do assassinado, e a outra é a avó do assassino... É a busca do perdão e das dívidas dramáticas. Bom, eu não poderei ir para o festival, infelizmente, mas Airton já imprimiu meu pôster de Kinatay para ser autografado (olhe aqui ele segurando o almejado!), filme que me pegou de jeito pelo o realismo das cenas e violência, um dos melhores filmes dos anos 2000! Com Kinatay Mendoza recebeu a frase já batia e tosca de: "O Filme que chocou Cannes!". Não foi à toa que recebeu o prêmio de Melhor Direção em 2009 no festival.

Além do diretor, o festival irá receber a presença de vários críticos e teóricos cinematográficos. Dentre eles, o crítico João Carlos Sampaio, do site Cineinsite, e Marcelo Miranda, do site Filmes Povo. O cineasta Murilo Salles, diretor do sensacional Nome Próprio, filme que pude ver na mostra Maranhão na Tela, também estará presente. Entre as atividades, ocorrerá o lançamento do primeiro livro publicado pela LUME Filmes, intitulado de Os Filmes que Sonhamos. O livro reuniu ensaios de importantes críticos nacionais, dentre eles Ivonete Pinto (Presidente da Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, Jornalista e Professora de cinema na UFPEL), sobre os filmes lançados em DVD da própria distribuidora LUME.
Dentre os filmes nacionais selecionados estão os longas Os Residentes e Terra Deu, Terra come. O primeiro é uma espécie de devaneio experimental narrativo, do diretor mineiro Tiago Mata Machado. Os Residentes é permeado por sua áurea esquizofrênica que carrega grande incomodo dos espectadores pelos os festivais em que passou, como no Festival de Berlim deste ano. Já Terra Deu, Terra Come é um prestigiado documentário, também mineiro, que acompanha Pedro de Alexina, 81 anos, comandando como mestre de cerimônias o funeral de João Batista, morto aos 120 anos. O filme ganhou o prêmio de Melhor Documentário nacional no É Tudo Verdade, importante festival do gênero (Clique aqui para ver o trailer).

O curta Áurea, de meu amigo Zeca Ferreira, foi selecionado para a Mostra Competitiva de Curtas. Áurea é uma um misto de documentário e ficção, onde ambos estão intimamente ligados de tal forma que se torna difícil perceber o que é verdade ou mentira, e até mesmo de classificá-lo como documentário ou como um gênero solitário. Áurea recebeu inúmeros prêmios, tais como o de Melhor Curta no Festival de Cinema Digital de Jericoacoara. Dentre os curtas dessa mesma mostra está Aos Pés (veja o belo trailer aqui), do diretor gaúcho Zeca Brito, que nasceu de um debate em Porto Alegre com o diretor Peter Greenaway, onde ele afirmou que "o cinema é dos rostos! Dos códigos do rosto...". Assim, Zeca Brito filmou apenas pés, O CINEMA DOS PÉS! Ainda na nessa mesma mostra se encontra o  Eu Não Quero Voltar Sozinho, de Daniel Ribeiro, que acompanha o relacionamento homoafetivo de dois jovens permeados pelo universo escolar.
Cena do curta. Aos Pés, de Zeca Brito

Lista completa dos filmes e curtas selecionados no Site Oficial do Festival aqui.

Cinema - Terra de Quilombo

Por: Rayssa Baldez

O documentário retrata a realidade dos moradores que habitavam terras quilombolas em Alcântara no Maranhão, onde foram retiradas 2000 famílias de suas localidades para instalação da Base de Foguetes em Alcântara.

Segundo a Convenção 169 da OIT, as pessoas que ocupam a longo período determinada terra têm direito de posse sobre a mesma. Apesar dessa designação, os quilombos não são vistos institucionalmente, visto que os direitos sociais básicos tais como: saúde, educação e saneamento básico não são assegurados.

Nesse sentido, por não serem “vistos” como sujeitos sociais, contribuiu para que fosse instituído um decreto consolidado pelo presidente Jose Sarney, em que as terras quilombolas fossem ocupadas para instalação da Base Espacial. Contudo, nesse decreto, só foi pensado o ponto de vista econômico e cientifico, não levando em conta toda a organização social; histórica e cultural que os habitantes dessas comunidades produziram e reproduziram há muitos anos.

Logo, como mecanismo de “assegurar” os quilombos, o governo transferiu essas famílias para as chamadas agrovilas, que são propriedades de pequena extensão e distantes da área litorânea de Alcântara. Dentro dessas agrovilas a infra-estrutura das casas é precária, e os habitantes não têm escritura das mesmas, e as famílias sobrevivem por meio de um campesinato parcelar, e estão privados de realizar suas atividades cotidianas, tendo como principal atividade econômica a extração e comercialização do carvão.

Portanto essas realocações de terras que fizeram o translado dessas famílias, não só as retiraram da terra, mas prejudicou suas trajetórias culturais( no filme muitas pessoas relatam que seus rituais religiosos não acontecem como ocorriam nas antigas localidades). Além de retirar o caráter simbólico e histórico que essas terras detém, fazendo e provocando uma descaracterização dessas comunidades.

Realização:
Fundação Cultural Palmares
Secretaria do Audiovisual
Videografia
Documentário
58 min. – 2002
Direção
Renato Barbieri
Roteiro
Victor Leonardi

8 de julho de 2011

O Desprezo de Mario Bava

Por: Lucas Sá
O Desprezo (1963) - Dir: Jean Luc Godard

Seis Mulherer Para Um assassino (1964) - Dir: Mario Bava

Estava vendo um dos primeiros filmes a carregar características do Giallo, gênero Italiano com influências do cinema Noir e da literatura policial dos anos 60. O filme em questão é do Sr. Mario Bava, Seis Mulheres Para Um Assassino. Durante uma cena a câmera passa por uma escada que ao fundo pode se ver um parede de pedras, mas não foi só isso que me chamou a atenção para essa cena. Eu parei o filme e fiquei pensando onde eu já teria visto aquela mesma imagem... No mesmo ângulo e no mesmo cenário. Em torno de dez minutos matutando minha mente eu descobri! E a cena é semelhante a nada mais, nada menos do que um dos filmes mais emblemáticos do Godard, O Desprezo, com a bela Brigitte Bardot. Não posso afirmar se foi coincidência ou proposital essa escolha do diretor, mas fazer uma ligação dos filmes do Bava com os do Godard é de certa forma interessante, já que ambos atuam em ideais divergentes em relação ao cinema de "atração". O Desprezo é de 1963, já o filme de Bava, Seis Mulheres Para Um Assassino, é de 1964, datas muito próximas. Talvez Bava tenha assistido as incríveis cenas, esteticamente perfeitas, da casa no campo de O Desprezo e tenha se inspirado para usar a mesma locação.... Ou seria apenas mais um dos cenários já reutilizados inúmeras vezes dos estúdios da Cinecittà?

6 de julho de 2011

Edmond Couchot e a arte numérica

Por: Lucas Sá

O desejo de materializar em meios não palpáveis a realidade é almejado há anos, essa conquista foi se tornando cada vez mais fértil a partir do Renascimento, que reuniu o intelecto de inúmeros artistas, principalmente pintores e inventores, para exercerem o papel de mentores da retratação virtual do que é real, seja por uma pintura ou por inventos pirotécnicos. Mas nenhum deles foi tão significativo quando a aliança da imagem para com a Perspectiva, efeito ótico ilusório que engana descaradamente o olhar humano, órgão fajuto e facilmente driblado, através de linhas e pontos que nos dão a impressão de imersão e realidade figurativa. Artistas da renascença passaram então a aliar os adventos da tecnologia em seus métodos artísticos, sobretudo na pintura, onde utilizavam a câmera escura para recriar com perfeição e detalhes pinturas e desenhos, como astrônomo Johannes Kepler, que há utilizou para retratar figuras topográficas. Antes o método mais fiel era a visão humana para a síntese desse produto do real, mas com os aparatos cada vez mais técnicos e ágeis, esse uso prematuro do órgão permanece em crise, já que ele se torna inevitavelmente dependente de extensões movidas a ferro e a roldanas automáticas. Isso sim é a real automatização da imagem.

Com a câmera escura os inventores e cientistas promoveram a criação de algo ainda mais irreversível e capaz de transforma a imagem e a impressão do real em um objeto instantâneo e palpável. Assim se fixa a fotografia como meio indutivo de intervenção e captação da suposta realidade, tendo como diferença de sua antecessora, a câmera escura, a substituição de um orifício artesanal por uma objetiva capaz de captar imagens de maneira automática. E é sobre essa linha sagaz que se mantêm o cinema, representação de pequenas fotos em constante movimento, assim como a sua origem apressada. O cinema aliado a fotografia são os meio capazes de tornar a imagem figurativa algo instantâneo e hipnótico. Talvez seja a maior automatização do processo de captação da imagem desde os impulsos ferozes do Renascimento burguês, e provavelmente seja a única daqui pra frente. Ambos tornaram a figuração virtual em parcelas de pequenos instantes, ou seja, cotação de tempos que só existem na nossa percepção visual, no caso, a visão do artista e espectador.
Fruto desse constante apelo sobre a imagem, nasce a televisão, meio que é, sobretudo, mais abrangente e globalizado em relação à dominação do olhar sobre a figuração númerica e automatizada da imagem. Edmond Couchot, em seu texto, Da Representação à Simulação: Evolução das Técnicas e das Artes da Figuração, afirma que foi o universo televiso "que acrescentou ao cinema a capacidade de registrar, transmitir e reproduzir simultaneamente e quase instantaneamente uma imagem em movimento” (COUCHOT, E. 1993 p.37). Instantaneamente é a palavra chave para caracterizar a TV em seu dever. A imagem nunca foi tão revolucionária e possível desde então, o tubo televisivo é capaz de encadear uma imagem em segundos, massificando essa mesma imagem em diversos lares residenciais e públicos, padronizando e educando o olhar para com seu conteúdo. Talvez esse seja o motivo de tanta rejeição por parte de intelectuais do meio cinematográfico, como Jean-Claude Carriére, em seu livro A Linguagem Secreta do Cinema, que analisa o controle remoto, aparato mimado e insistente da TV, como um objeto eletrônico que torna o espectador o montador de seus próprios filmes, tornando-o ignorante e quase esquizofrênico em relação à ação da mudanças de canais.

A TV permitiu um maior envolvimento da imagem figurativa em um alinhamento quase perfeito do espaço e do tempo, complementados pela a trindade dimensional, no caso, o Objeto, a Imagem e o Sujeito. É a relação mútua, ou melhor, a hibridização (como diria Edmound Couchot) e a convergência dos meios (como diria Arlindo Machado) que permite a contemplação do vigente em relação à imagem em movimento, unindo por meio de materiais químicos o espaço e o tempo divergente em um mesmo instante, desde o momento da captação/pose, no caso, o PRESENTE-PASSADO, até a contemplação física, neste caso, o PRESENTE-PRESENTE.

Um fato curioso desse envolvimento de espaço e tempo (captação e contemplação) na TV, foi o gol não validado pelo juiz Jorge Larrionda, da Alemanha contra a Inglaterra, na copa do mundo da África do Sul em 2010. A decisão gerou grande polêmica e contestação das ações que o árbitro efetivou depois que a grande massa televisa, no caso, os espectadores, viram em suas próprias telas a bola entrando no gol. Semelhante ao que aconteceu com ambos os times na copa de 1966. Essa reprovação em meio à decisão é agitada pela comentada instantaneidade e domínio do vídeo digital, assim sua mobilidade e sua dimensão espacial se reflete mais real do que a personificação de um julgador na partida em tempo e espaço real. Logo, a imagem real do juiz é contestada pelo o vídeo, já que o que seria real para o juiz se torna errôneo. É a realidade do vídeo se sobrepondo a realidade do homem, no caso o juiz. Assim, a imagem virtual se torna mais real do que a visão orgânica humana. Outros casos de mesma origem já aconteceram, como o gol de mão do Maradona, em 1986 na Argentina, onde a ação foi captada pelas câmeras e não reparado pelo o olhar do juiz da partida. Muitos dizem que esse árbitro permitiu esse gol não só pela falta de percepção visual, mas também por questões políticas, já que o país havia sido derrotado na guerra das Malvinas e necessitava de um animo em dimensões nacionais. Qual seria, então, o melhor método para elevar a auto-estima de toda uma nação? A vitória e satisfação audiovisual de um gol do símbolo cultural máximo da Argentina em uma tela de TV! Isso tudo ao vivo.

Mas nem sempre essa instantaneidade e agilidez foram possíveis na comunicação. Se essa partida entre Inglaterra e Alemanha fosse realizada em 1950 os gols não validados pelo o juiz passariam para alguns despercebidos. Isso seria provocado não só pela falta de equipamentos e câmeras mais modernas, mas também porque as transmissões nessa época eram ao vivo e não tinham capacidade de armazenamento e nem torres de transmissão continua, dificultando a relação posterior e repetitiva da imagem com o espectador televiso, como ocorre hoje no site youtube.com, por meio de cálculos numéricos dos pixels emparelhados em telas cada vez menores. Visando diminuir esses problemas técnicos a FIFA deve implementar nas próximas copas e jogos chips nas bolas, que indicaram se ela entrou ou não no gol, além de diversas câmeras nas angulações do trave do gol, assim como já fazem no basquete, onde o time pede para ver a revisão do lance, caso se sintam prejudicados pela decisão do juiz. E na formula 1 e em corridas em geral, onde a vitória é decidida frames a frames para analisar qual corpo ultrapassa a linha que marca a chegada.

Referências e Fontes:
COUCHOT, E. "Da representação à simulação: evolução das técnicas e das artes da figuração". In: Imagem máquina: a era das tecnologias do virtual. Org. André Parente. Rio de Janeiro, Editora 34, 1993. p. 37-48.
MACHADO, ARLINDO, Arte e Mídia, 2.Ed., Rio de Janeiro: Editora Jorge Zahar, 2008
CARRIERE, JEAN-CLAUDE, A Linguagem Secreta do Cinema, 1.Ed. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira. 2006