22 de abril de 2012

Crítica - Não Morrerei Sozinha (2008)



Este filme argentino começou sua carreira nos festivais de horror independentes, ganhou alguns prêmios e foi se destacando pela sua crueza e forma de produção. O padrinho desse reconhecimento foi o clássico Festival Rojo Sangre, de Buenos Aires, tanto que o nome do evento aparece nos créditos inicias do filme como agradecimento. 

O estilo de produção de Não Morrerei Sozinha (No moriré sola) é um meio que muitos realizadores buscam com a facilidade e qualidade das câmeras digitais. Esse formato "unido" de produção cresce cada vez mais, um exemplo mais do que atual é o Coletivo Alumbramento do Ceará, que produziram os longas Os Monstros e Estrada para Ythaca, filmes que a qualidade técnica é o que menos importa. Esse modelo  nos permite um melhor aproveitamento criativo e estético da própria produção, fato que só torna Não Morrerei Sozinha um excelente filme pelo seu empenho (e honestidade) quanto filme de baixo orçamento.

  O argentino Adrián García Bogliano, diretor da obra, tinha em mãos pouquíssimos recursos e um orçamento de seis mil pesos, segundo o site IMDB. Logo, a precariedade da produção é um fato que incomoda de princípio, mas em contrapartida é esse desapego que torna a obra interessante, o mesmo ocorre com o aclamado Mangue Negro, do Rodrigo Aragão - aqui paro de comentar que o filme é precário na produção - Na realidade o filme é excelente! Tanto na fotografia como nas atuações, tudo está em perfeita sintonia. Os planos são bem enquadrados e ajudam a nos situar no clima setentista, a imagem está sempre estourando o grau de branco e a coloração é desaturada, escolhas bem definidas pela direção. Bogliano não utiliza dos artifícios básicos de "tentar parecer um filme de horror dos anos 70", como os já manjados e irritantes efeitos de película velha, pelo contrário, ele afirma a produção como atual quando uma das personagens utiliza constantemente um telefone celular.  
 O fotografo Fabricio Basilotta, em Não Morrerei Sozinha, trabalha a estética do vídeo submetendo a imagem a um certo "estragamento" dos pixels, realizado pela super abertura do diafragma que estoura os brancos da imagem e por um leve desfoque do plano, que permite uma imagem embaçada típica dos filmes trash dos anos 70/80. Há também certo apelo pela figura feminina, como o excesso de closes na pele suada das protagonistas e planos que evidenciam a grandiosidade da vingança pelos clássicos contra-plongées, que filmam os personagens de baixo para cima.  

De início somos guiados em alta velocidade por uma estrada de terra por onde as quatro personagens femininas passam, um belo plano, mas no decorrer do filme essa beleza estética vai se desmanchando, se reerguendo com toda força nos minutos finais. Os melhores momentos  se situam nos longos planos-sequência, como na morte de um dos estupradores, onde as personagens enterram incansavelmente o homem em uma tumba, e também no plano final que complementa o conceito do início do filme, trazendo a idéia de continuidade, de mudança de valores. 

O roteiro é simplista e não implementa nenhuma novidade no estilo Revenge Movies. Adrián García Bogliano tem total e plena consciência disso, tanto que nos créditos iniciais, na parte de Ajuda Espiritual, ele expõem todas as suas inúmeras influências, como os filmes: Funny Games (Michael Haneke), Ms. 45 (Abel Ferrara), Death Wish (Michael Winner), The Last House on The Left (Wes Craven), Don't Torture a Duckling (Lucio Fulci), Angst (Gerald Kargl), e também os diretores Eduardo Sánchez, Gaspar Noe, Takashi Ishii, Takashi Kitano, e vários outros. Outros filmes do gênero (acho que posso chamar assim), como A Vingança de Jennifer e Thriller - Um Filme Cruel (obviamente que ambos também estão nos créditos das influências para o filme), são focados em uma única personagem feminina que sofre agressões físicas e em seguida busca a vingança. No longa de Bogliano isso é um pouco diferente. 

MULHER + VÁRIAS AGRESSÕES + VINGANÇA = REVANGE MOVIE! 

O fato que diferencia Não Morrerei Sozinha dos demais filmes do seu estilo é a forma como o roteiro trata as quatro protagonistas que dividem a trama, cada uma com seu momento especifico, sendo que ás vezes esse momento pode ser interrompido por um tiro na cabeça. É um filme onde a energia e a garra da produção ultrapassa a técnica e se fixa na imagem, sobretudo no plano final, onde me causou um estado de êxtase momentâneo pela vitória sanguinária das personagens.