24 de dezembro de 2012

"O Açúcar" de Gullar

Nascido em 1930, ludovicense radicado no Rio, Ferreira Gullar é um dos maiores poetas brasileiro vivos da atualidade, além de notável dramatúrgico, roteirista, pintor e teórico da poesia e arte em geral. Embora ganhador do prêmio Jabuti somente com as recentes obras “Resmungos” e “Em Alguma Parte Alguma” seu popularismo se deu bem antes com suas obras poéticas “Dentro da Noite Veloz” de 1975 e “Poema Sujo”, publicado em 1976, considerado por Vinícius de Moraes como “o mais importante poema escrito em qualquer língua nas ultimas décadas”. 

Dentro da Noite Veloz, publicado em 1975, no auge da ditadura militar, é a obra o que marca o caráter engajador de Ferreira Gullar ao denunciar o cotidiano das classes oprimidas internalizando uma realidade que é de todos. Isso é claramente percebido em “Poema Brasileiro”, um dos poemas mais conhecido que compõe essa obra, trazendo uma linguagem estatística que chama atenção para o problema da mortalidade infantil sem deixar de lado seu acentuado arranjo estilístico.

POEMA BRASILEIRO

No Piauí de cada 100 crianças que nascem 
78 morrem antes de completar 8 anos de idade 

No Piauí 
de cada 100 crianças que nascem 
78 morrem antes de completar 8 anos de idade 

No Piauí 
de cada 100 crianças que nascem 
78 morrem 
antes 
de completar 
8 anos de idade 

antes de completar 8 anos de idade 
antes de completar 8 anos de idade 
antes de completar 8 anos de idade
antes de completar 8 anos de idade 
(GULLAR, 2004, p. 159)

Embora "Poema Brasileiro" seja de estrondoso e merecedor sucesso da literatura, o poema que mais me chama atenção é "O Açúcar" onde o eu-lírico, em uma tranquila manhã, divaga sobre a origem do açúcar que adoça seu café. “O Açúcar” ironicamente não tem nada de doce. Talvez até seja aparentemente doce como qualquer produto final ao ser consumido, mas ácido e azedo ao tratar de uma realidade neocolonialista e de desigualdades sociais existentes até hoje. É um poema que vai perfeitamente de encontro com os pensamentos do antropólogo e critico social, Darcy Ribeiro;
Por isso mesmo, o Brasil sempre foi, ainda é, um moinho de gastar gentes. Construímo-nos queimando milhões de índios. Depois, queimamos milhões de negros. Atualmente, estamos queimando, desgastando milhões de mestiços brasileiros, na produção não do que eles consomem, mas do que dá lucro às classes empresariais. (RIBEIRO, 2010)

O AÇÚCAR

O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio
da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,
dono da mercearia. este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.


Em lugares distantes, onde não há hospital
nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos vinte e sete anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.


Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

(GULLAR, 2004, p. 165)

Referências

GULLAR, Ferreira. 2004. Toda poesia. Rio de Janeiro: José Olympio.
p. 159 e 165.

LUFT, Gabriela. “O poeta, o poema e a militância poética: a produção de Ferreira Gullar em Dentro da noite veloz”, [s.d.].

RIBEIRO, Darcy. 2010. O Brasil como problema. 1o ed. Rio de janeiro: UNB.

7 de outubro de 2012

Curta "Saco Plástico" (2009)

Por: Airton Rener

Responsáveis por uma infinidade de externalidades negativas, as sacolas plásticas, criadas por Alexander Parkes em 62 , mas somente introduzidas em massa nos anos 70, representam um novo padrão de vida que iria se concretizar com a moderna sanha consumista. É nesse contexto que se insere "Plastic Bag", curta dirigido pelo estadunidense Ramin Bahrani, conhecido pelo aclamado e bem premiado filme independente "Man Push Cart"(2005).


Nesse curta Ramim Bahrani põe vida e sentimentalismo na protagonista sacola plástica por meio da figura de estilo denominada de personificação. É com isso e com uma fotografia impecável aliada a planos bem enquadrados que se sustenta um roteiro simples baseado desde o "nascimento" da sacola plástica até o destino final, o"Vórtex", nome dado para a concentração gritante de lixo não biodegradáveis no Oceano Pacífico.

A sensação do curta está associada ao seu valor poético graças a narração do cineasta Wener Herzog,   popularmente conhecido pelo seus documentários "O Homem Urso" (2005) e Encontros no Fim do Mundo (2007). Como também pelo seu caráter filosófico quando este se trata da superficialidade humana em  relação ao seu subproduto de "insignificante importância". Tal insignificância que se multiplica em números exorbitantes os quais refletem para a paradoxal racionalidade do homem e seu sistema falho, desarmônico com a natureza. Segue abaixo o curta de aproximadamente 18min.



Sinopse: Curta que mostra de forma simbólica a longa jornada de um saco plástico (narrado por Werner Herzog) em busca de seu criador perdido até o seu 'término de vida', com o desejo de retorno transmitido pela canção: “I wish you had created me so that I could die” – Eu queria que você tivesse me criado para que eu pudesse morrer. Direção: Ramin Bahrani. Áudio: Inglês Legendas: Português Duração: 18 min.

Direto do "Salamandras Radioativas"

15 de agosto de 2012

Música - Sobre o disco e turnê "Chão" de Lenine


“No início, havia apenas a palavra e meu principal significado para chão: tudo aquilo que me sustenta. Chão, quase uma onomatopeia do andar – que soa nasal e reverbera no corpo todo” Lenine.


“Chão”(2011), é assim que se define o décimo álbum realizado pelo brilhante cantor e compositor pernambucano, Lenine. O novo disco produzido juntamente com Jr Tostoi e seu filho, Bruno Giorgi, embarca para uma temática voltada para a relação da natureza e a paisagem interior do homem. Produzido em sua própria casa, num ambiente mais familiar, seu disco difere do seu ultimo, “Labiata” (2008), marcando um trabalho mais espontâneo, de pai para filho. Como já deixado claramente, “Chão” para Lenine é aquilo que sustenta e que dá força e ao se tratar em alicerces sociais, eis que a família é o chão de tudo e é daí que surge a ideia da capa do CD simplesmente retirado de um álbum de família o qual Lenine está com o neto deitado sobre seu peito. É a partir dessa estética simplista que se reforça a paternidade e a natureza social da família que segundo Rousseau é a mais antiga e mais natural de todas as sociedades.

Com aproximadamente 28 min de duração, o disco é um dos poucos álbuns do atual MPB de caráter cíclico e conceitual, montado para ser apreciado como todo apresentando inicio, meio e fim bem definidos com as musicas “Chão”, “Envergo Mas Não Quebro” e “Isso É Só O Começo” que ao mesmo tempo em que finaliza ela retoma para mais mais uma dose de seu próprio disco. Sem o uso da bateria, o pernambucano se arrisca a um trabalho diferente, portanto, inovador, com composições eletrônicas bem equilibradas entre sons sintéticos e orgânicos que dão uma harmonia perfeita transferindo o ouvinte para um universo bucólico proposto pelo álbum. A participação do guitarrista, Tostoi, para isso, foi essencial tanto para as músicas mais calmas quanto para as mais densas como a “Tudo Que Me Falta, Nada Que Me Sobra”, uma dos destaques do álbum.

O disco é orgânico, intimo e autobiográfico que conta com 10 músicas que se completam.. “Chão”, quase que redundante, é a primeira faixa e o alicerce do álbum que se inicia ao som sutil de serrapilheiras sendo pisadas a passos cada vez mais acelerado. Logo no final dessa musica se percebe batidas de coração do filho Bruno Giorgi que dão sequencia para a próxima "Se Não For Amor, Eu Cegue" caracterizada por um ritmo inicial eletrizante que vai suavizando até chegar num desfecho com um refrão que gruda na cabeça, é uma das mais elaboradas letras do disco, repleto de analogias que conduzem o ouvinte a um ambiente totalmente original e autentico, você mergulha de vez na obra musical. 

A terceira faixa é "Amor É Pra Quem Ama" marca bem o caráter romântico do álbum, quase cai em lugar comum se não fosse uma brilhante ocasião durante a gravação com o canto do canário da sogra de Lenine chamado Fred. É, sem duvida, uma das musicas mais lindas e naturais do "Chão". Logo em seguida há uma mudança de ritmo com a música de passagem obscura, "Seres Estranhos" que combina perfeitamente com o tema da letra, onde se trata da diversidade etno-cultural das cidades que segundo o sociólogo Giddens não é nem artificial e nem menos natural de qualquer outro tipo de comunidade.

Lenine, JR Tostoi e Bruno Giorgi, produtores e músicos do CD
"Uma Canção e Só" é a quinta faixa, lenta, porém bem trabalhada, carregada de um tom bucólico que nos remete a um ambiente interiorano, pastoril, e preenchida pelo som progressivo de uma buleira. Em diante temos a composição mais excitante do disco, "Envergo Mas Não Quebro", que se inicia ao som constante de uma motosserra até se concluir, no final da música, com a queda de uma arvore. A letra faz uma analogia que está associado a resiliência da natureza e resistência emocional do eu-lirico, no entanto, quando vem uma força mecânica, a motosserra, produto do homem, essa capacidade se fragiliza a partir de uma força bruta, endemoniada pelo consumo demasiado.

Há um um certo momento de tensão e revolta, é dai que surge a sétima faixa "Malvadeza" como o próprio nome sugere, é uma retaliação da faixa anterior onde as cigarras cantam deixando a voz de Lenine em segundo plano, a canção é uma verdadeira declamação poética. "Tudo Que Me Falta, Nada Que Me Sobra" é a oitava faixa, e é o destaque do álbum pela sua densidade e harmoniosa composição. Já a próxima música "De Onde Vem A Canção" tem um ritmo descontraído, trabalhando com o fenômeno da metalinguagem. que preenche as entrelinhas do disco. E para finalizar temos uma visão "apocalíptica" de Lenine na última faixa "Isso É Só O Começo", harmonicamente irônico e critico, reunindo artifícios já usados em faixas anteriores. É a música-chave para mais uma dose do seu belíssimo álbum.


A turnê de lançamento de disco leva o telespectador ao mesmo universo proposto pelo álbum de forma sinestésica, é para sentir o Chão! O cenário é simples e aconchegante; chão de serrapilheiras, umas lâmpadas e painéis eletrônicos que lembram o grupo alemão Kraftwerk. Em março, Lenine fez show em Brasília no Teatro Nacional, carismático, pareceu de primeira vista um pouco tímido devido ser um trabalho recente e diferente, mas aos poucos foi se soltando naturalmente até que dançou com todo seu gingado as últimas músicas do show. O set-list não segue a sequencia do álbum, foram misturadas músicas do disco "Chão" com seus sucessos, dentre elas temos o "Rua de Passagem" (Trânsito) o qual caiu bem dentre as outras, foi usados sons urbanos como businas e motores, dando contraste com as músicas de seu novo álbum. Sem dúvidas foi um show inesquecível, singular, além daqueles comuns de um cantor sentado num banquinho!

Direto do "Salamandras Radioativas"

3 de junho de 2012

O Produtor x Criação


O filme para se estabelecer quanto obra física ou virtual, seja em película ou em arquivos no HD, necessita de certas etapas para que todos os elementos estéticos-narrativos do roteiro sejam implementado quanto ficção na tela. Assim, as variadas camadas da equipe de produção de uma obra cinematográfica atuam diretamente para a confecção em termos de promover os caminhos certos para tal arte.  

O que se discute muito no cinema é até que ponto a obra final, já realizada, tem interferências de outros cargos dentro da hierarquia do cinema. Quando se fala de um cinema mais intimista, como é o caso da maior parte da produção nacional, a figura do diretor é soberana nas decisões pontuais, cabendo a ele a escolha de certos aparatos para sua obra, que passa desde a confecção do roteiro até a montagem final, ele está ali, sempre espreitando seu filme para que não se desvirtue de seus ideais. Neste caso, o produtor entra como um aparato para a direção, impondo certos limites máximos sobre a criação dos demais diretores de uma obra, seja o diretor geral ou os diretores de arte. O filme tem um orçamento, logo, a produção se sente no dever de enquadrar o roteiro a realidade de produção e em que mercado está sendo inserido, estas ações de limites “do que pode ou não ser feito” interferem consideravelmente na liberdade criativa, claro, há dinheiro envolvido neste processo de realização. Mas está interferência não parte só do produtor, os demais cargos também são decisivos para este fato, é tolo pensar que um filme é formado por uma soberania criativa, no caso, o diretor. O cinema deve ser pensado como um conglomerado de idéias coletivas de toda uma equipe que trabalha em sintonia em direção a um resultado semelhante.  

O que existe são diretores e produtores mais enraizados na sua visão, que podem ser ou não abertos a mudanças repentinas de produção. Mas no cinema, essas “mudanças repentinas” são sempre os desafios de realização, saber desviá-las é o que se pode esperar de um experiente diretor-produtor. É está instabilidade do momento que provoca certos distúrbios na estética final do produto fílmico, sobretudo quando não se tem um cuidado técnico e especifico no momento de desespero.  

Olhando entrevistas e debates da produtora Sara Silveira, da inventiva empresa Dezenove Filmes (http://www.dezenove.net/), é possível perceber que sua postura no set é rígida e concisa nos seus objetivos, que é dar ao diretor as melhores opções para a quantia de capital que a produção tem para o produto. Um exemplo que pode ser observado nessa afirmação dos filmes em que produziu, é o longa Trabalhar Cansa, de Juliana Roja e Marco Dutra. Antes das filmagens o filme passou por variados testes para a escolha da melhor forma de captação, em película ou em digital. Ao final das analises perceberam que era melhor e mais em conta gravar as cenas em película, usando o Super 16mm, já que acabariam gastando o mesmo com a gravação em digital, pois este necessita de mais equipamento de iluminação.   

O fator da produção neste caso foi sublime, já que o Super 16 mm além de sair o mesmo preço atribuiu à imagem certa textura de grãos que beneficia a estética realística do filme de Rojas e Dutra, característica que no digital não seria presente da mesma forma.


31 de maio de 2012

Carta de Sobral - I Nossas Américas, Nossos Cinemas

Nós, reunidos em Sobral, Ceará, Brasil, de 23 a 26 de maio de 2012, no marco do primeiro “Nossas Américas, Nossos Cinemas”, participamos do primeiro encontro de jovens realizadores da América Latina e Caribe, unindo 16 nações, promovendo um intercâmbio entre gerações. Entendemos a juventude como um estado de espírito em luta, sem preconceitos e aberto e nos reconhecemos como povos irmãos.


Este encontro tem, como objetivo, refletir, compartilhar experiências dos realizadores audiovisuais e gerar ações sobre a linguagem audiovisual, a comunicação, com o fim de manter vivo um movimento integrador da nonossa “AbyaYala” (América Latina e Caribe).

Trabalhamos com as heranças milenárias herdadas dos povos originários, transmitida aos povos transplantados, brancos pobres e escravos africanos trazidos por barcos colonizadores, e reinventados pelos povos presentes neste encontro.

Reconhecendo e recusando a ditadura do mercado que oprime nossos povos e seus imaginários culturais, seguiremos os seguintes princípios:

1.       Considerando A “DECLARAÇAO UNIVERSAL SOBRE A DIVERSIDADE CULTURAL”, da UNESCO, entre outros instrumentos internacionais que garantem a identidade e diversidade cultural a partir da produção cultural, entendemos a realização audiovisual como um direito humano;

2.       Exigir e proteger a plena vigência do direito à linguagem cinematográfica e audiovisual dos nossos povos, promovendo legislações que o garantam a cada uma de nossas nações;

3.        Entendemos o audiovisual como um fato político e artístico de ressignificação e transformação sociocultural;

4.       Apoiar os direitos do público com base nos conceitos marcados pela Carta de Tabor (1987), criada pela FICC (Federação Internacional de Cineclubes), para a formação de públicos pela ação dos cineclubes e das salas de cinema cultural, também apoiando e difundindo o dia 10 de maio como o dia do público;

5.       Garantir a alfabetização e educação audiovisual dos nossos povos, na sua dimensão artística e política, encorajando a leitura crítica dos meios de comunicação;

6.       Exigir o direito a livre comunicação, informação, expressão e acesso aos meios audiovisuais para todos os povos da América Latina e do Caribe;

7.        Defender o espectro radioeletrônico e a internet como bens públicos comunitários com a finalidade de preservar o espaço da comunicação sem censuras, tendo como referência a “LEY DE MEDIOS Y SERVICIOS DE COMUNICACION AUDIOVISUAL”, da Argentina, e a nova “LEY DE TELECOMUNICACIONES”, da Bolívia. Também nos declaramos abertamente contra o projeto “ACTA”, a lei “SOPA” e qualquer outro ato que ameace a liberdade de expressão dos povos e nos propomos a fomentar o uso das licenças “creative commons” e bases operativas como o LINUX, e outros softwares livres;

8.       Acompanhar e estimular os processos já existentes na organização do setor audiovisual, que compartilhem os mesmos princípios levantados por essa Carta, e recomendar a sua criação a níveis locais, regionais e nacionais, onde não existam;

9.        Exigir dos Estados garantias constitucionais para os realizadores que sofrem perseguição e ameaças a sua integridade física e intelectual. Exigimos o tratamento especial diferenciado do realizador e realizadora audiovisual, da mesma forma que recebem os jornalistas com relação à proteção e reserva das suas fontes;

10.     Incrementar espaços e oportunidades de acesso à informação e capacitação integral, bem como tecnologias já existentes e por serem inventadas, com o fim de garantir o direito de produção e circulação do audiovisual dos povos da América Latina e do Caribe;

11.     Promover mecanismos de fomento, sustentabilidade e continuidade dos processos de produção audiovisual dos povos da América Latina e do Caribe;

12.    Promover a integração cultural latino-americana e caribenha, respeitando a nossa diversidade cultural com o fim de exercer um processo de compreensão de uma identidade comum;

13.    Fomentar o pensamento, trabalho e tomada de decisões de maneira coletiva, respeitando as particularidades e construindo nossos laços com base na transparência e horizontalidade;

14.    Estabelecer a regularidade e itinerância deste espaço, de caráter aberto em “AbyaYala”, com rotatividade dos representantes, que devem socializar localmente os debates levantados nos encontros;

15.    Instituímos a rede virtual como meio válido de vinculação e discussão;

16.     Defendemos a liberdade criativa de formatos e estéticas na linguagem audiovisual, respeitando e fomentando a diversidade dos imaginários culturais dos nossos povos e nações latino-americanos e caribenhos, não permitindo nenhuma hegemonia estética imposta;

17.    Promover a solidariedade, a cooperação e o trabalho associativo entre os nossos povos;

18.     Promover a produção audiovisual com atitude critica  e superadora sobre os nossos imaginários, realidades, histórias, espaços comuns, semelhanças e contradições;

19.    Gerar uma interação direta entre as produções audiovisuais e os públicos, por meio de todos os formatos e linguagens existentes e por serem criados;

20.    Fomentar o uso das línguas ancestrais dos povos originários, e dialetos da América Latina e do Caribe para ampla difusão dos conteúdos audiovisuais produzidos pelas comunidades, tendo como referência o artigo 16 da “Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas” e outros instrumentos internacionais;

21.    Convocar para este espaço as nações e povos hoje ausentes neste encontro, procurando a integração e representação de todos os povos e nações que habitam os países da América Latina e do Caribe;

22.     Reconhecer como válida a experiência e formação não-acadêmica, acreditando na importância dos conhecimentos vivenciais nas áreas não-pedagógicas;

23.     Fortalecer o eixo fundamental dos espaços de formação e capacitação acadêmicos e nãoacadêmicos, de realizadores audiovisuais, no exercício da memória e história de nossos povos;

24.    Cremos importante gerar o intercâmbio e distribuição de obras audiovisuais traduzidas nas línguas faladas no nosso continente. Nesse sentido, comprometemo-nos, de forma colaborativa, a traduzir, dublar e legendar as obras audiovisuais e documentos que produzirmos;

25.    Este processo não obedece a interesses político-partidários. Sendo este grupo multinacional, composto por diversos setores da sociedade civil, entidades governamentais, grupos prontos ao debate e à recomendação de propostas de políticas públicas para o audiovisual e à comunicação dos nossos povos.

Ações:

Decidimos pela criação de diversos grupos de trabalho responsáveis pelas seguintes ações:

Comunicação:
1.       Criação e manutenção de uma lista de comunicação via internet. O moderador da rede se alternará em cada um dos encontros;
2.       Criação de um Portal;
3. Criação de um boletim eletrônico mensal.

Intercâmbio e Residência Audiovisual:

1.       Formar um grupo de coordenadores, um em cada país, para o desenvolvimento desta experiência na América Latina e no Caribe, com o compromisso de criar uma lista de anfitriões e residentes;

2.       As modalidades de residência serão definidas pelas partes envolvidas caso a caso.

Declarações:

1.       Declaramos nosso apoio à promulgação da nova lei cinematográfica e audiovisual do Peru, por parte das instituições de que participamos neste encontro, e o faremos, formalmente, por meio de uma carta;

2.       Manifestamos o apoio à criação e aplicação das leis de cinema e audiovisual que estão sendo debatidas no Paraguai, atualmente em etapa de construção;

3.        Expressamos nossa preocupação e exigimos de nossos governos  cessar a guerra, o genocídio e a perseguição infligidos aos povos indígenas e afrodescendentes da Colômbia, e deter a onda de violência vivenciada em países como  México que limitam o livre desenvolvimento dos direitos a justiça e a comunicação democrática;

4.       Apoio à continuidade e permanência da Jornada de Cinema da Bahia, encontro que já tem 40 anos de atividades e que corre o risco de não se realizar este ano. Ressaltamos que, no seu contexto, nasceu a Lei do curta-metragem no Brasil e a Associação Brasileira de Documentaristas;

5.       Apoiamos a realização do encontro Cariri / Caribe;

6. Saudamos a designação de 2012 como “Ano Internacional da Comunicação Indígena” e a celebração do XI Festival de Cinema Indígena de cineastas dos povos originários, na Colômbia, em setembro deste ano;

7.        Expressamos nossa profunda preocupação diante do próximo Encontro de Desenvolvimento Sustentável Rio+20, diante da forma  autocrática como foi definida sua agenda em muitos casos, e diante do fato de os acordos tomados pelos presentes governos comprometerem gerações presente e futuras;

8.       Solidarizamo-nos com o fim do bloqueio a Cuba;

9.        No mês de novembro deste ano, realizaremos uma reunião na Tríplice-Fronteira, na cidade de Iguazú, Misiones, Argentina, com a finalidade de preparar o segundo encontro de Jovens Realizadores da América Latina e do Caribe, a ser realizado em 2013 no Peru.

Sobral, Ceará, Brasil, 26 de maio de 2012.
 
Nossas Américas, Nossos Cinemas 1º Encuentro de Jóvenes Realizadores de América Latina y Caribe



10 de maio de 2012

Cinema - Velho Recife Novo

Por: Airton Rener

Depois que vi o documentário "Avenida Brasília Formosa"(2010) de Gabriel Mascaro, a maneira de se ver Recife é outra, transformando Pernambuco como novo polo de produção audiovisual. É dai que observamos uma forte tendência do cinema em prol a produção científica das comunidades acadêmicas. O curta documental "Velho Recife Novo" vem justamente disso, cujo vários estudiosos em suas respectivas áreas em parceria com os cineastas Luís Henrique e Caio Zatti, abordam os conceitos da cidade e sua urbanização levando como principal ponto de convergência a questão do espaço público em Recife, onde, assim como muitas cidades do nordeste, está passando por um intenso processo de especulação imobiliária desacompanhada de uma boa eficiência do planejamento público. Segue o curta de 16min de duração.




Sinopse: Oito especialistas de diversas áreas (arquitetura e urbanismo, economia, engenharia, geografia, história e sociologia) opinam sobre a noção de espaço público na cidade do Recife e destacam temas como: a história do espaço público na cidade, o efeito dos projetos de grande impacto no espaço urbano, modos de morar recifense, a relação entre a rua e os edifícios, a qualidade dos espaços públicos, legislação urbana, gestão e políticas públicas e mobilidade. 

8 de maio de 2012

As cores de TOMBOY


Tomboy é uma expressão americana para designar uma menina que apresenta características e comportamentos considerados tipicamente masculinos, incluindo companhia de rapazes, brincadeiras de rapazes e roupas consideradas pouco femininas, como bermudas.  

Tomboy (2011) relata sobre uma garota de 10 anos que tem um comportamento de garoto e se veste como tal. Ela se muda e faz novos amigos, porém sob o nome de Michael (seu nome é Laura). Não sabe claramente o porquê, mas começa a imitar os hábitos e linguagem corporal de seus amigos, fica cada vez mais presa à ilusão que cria.  

As cores escolhidas propositalmente para representar a instabilidade sexual da garota são os tons de vermelho e tons de azul, essas cores estarão presentes em todas as cenas, com intensidade de cada uma variando de acordo com a mudança comportamental da garota. As cores podem ser observadas no cenário, nas vestimentas e nos outros personagens, a atriz (Zoé Héran) escolhida para representar a garota tem olhos bem azuis e pele branca avermelhada, facilitando o contraste. Não foi necessária muita utilização de ferramentas de alteração de cores nas imagens finais, uma vez que as cores foram escolhidas e utilizadas já de acordo com esse pensamento, e em elementos presentes no cenário do filme, de forma bem icônica. 

 As cores também variam de acordo com o momento de tensão do filme: em cenas mais dramáticas a direção utiliza mais os tons de azul e cinza, em cenas mais intensas o vermelho, rosa e laranja, mas sem apresentar um contraste exagerado entre cenas, apenas alterando os elementos em uso físico. O cartaz foi feito baseado-se no mesmo raciocínio; simplista e minimalista como o filme, apresenta bem o contraste das escolhas sexuais através de tons limpos de rosa, lilás e azul. 

http://30.media.tumblr.com/tumblr_lumbar42Qn1r35u3eo1_500.gif

A cena a cima se mostrou ideal para a confecção do cartaz, é uma cena na qual a Laura posa para que sua irmã a desenhe. O papel de parede apresenta as cores da proposta, assim como o figurino e as próprias cores dos olhos e da pele da atriz. A proposta é trazer ao público um filme de ideias simples e bem colocadas, e essas ideias vão se traduzir também tanto no primeiro contato com o cartaz como na visualização dos planos.

Pôster oficial de Tomboy

As Paletas de Cores dos Personagens: