19 de junho de 2011

Literatura: Falando sobre o “Apocalipse Motorizado”

Por: Airton Rener

Colocando a grande São Paulo como exemplo, a cada 6 horas alguém morre por causa de um “acidente” de trânsito. Quase uma guerra civil, esses dados nos mostram apenas as conseqüências diretas da nossa sociedade do automóvel, e nessa estatística não está incluída as conseqüências em longo prazo que prejudicam uma futura geração e que transformam a situação em algo IRREVERSÍVEL. Os veículos são responsáveis por 70% da poluição na cidade de São Paulo, e 7 a 10 pessoas morrem diariamente por causa da poluição, principalmente idosos e crianças. No entanto se você ama automotivos, “meu amigo”, pode parar por aqui, ou não.

Não é querendo ser ludista ou ativista, mas ultimamente tenho questionado muito o quanto nossa sociedade se transformou ou se transforma em CO2, até os cérebros das pessoas entraram em combustão. Foi por isso que pesquisei e encontrei o livro “Apocalipse Motorizado”. Com um título bem sugestivo e interessante, o livro é resultado de uma rica crítica anticarro que foi organizada por Nedd Ludd. A obra reúne diversos textos de caráter sócio-científico escrito por grandes pensadores e ativistas contemporâneos como o próprio Ned Ludd, Mr. Social Control, Ivan Illich, Caroline Granier, André Gorz e outros. O livro apresenta não apenas uma análise da insustentável organização de nosso atual sistema de transportes, mas também sugestões de como, na prática, se opor de maneira inteligente e criativa à ditadura do automóvel.

A obra faz uma abordagem em diversas perspectivas que se convergem em um mesmo ponto, são vários assuntos associadas ao carro, mas não necessariamente ao CARRO em si, mas ao uso particular do transporte. André Gorz, por exemplo, afirma em seu texto “A ideologia social do automóvel” que o grande problema do carro é de ser bens de “luxos”, ele faz uma comparação dos carros com as mansões a beira de praia que a partir que são popularizadas, ou melhor, democratizadas, acabam tornado o espaço em um grande problema estrutural, pois as áreas de beira mar são muito limitadas, e o que poderia ser local de “luxo” acaba se transformando em favela. É com essa idéia que faço uma associação com as “Autobahns”, termo alemão para designar as estradas de altas velocidades, ou melhor, “estradas de luxo”, onde desfilavam as famílias abastadas com os primeiros carros motorizados. Desfilar nas Autobahns era sinônimo de luxo, velocidade e liberdade. A banda eletrônica alemã Kraftwerk retratou bem essa temática em seu álbum “Autobahn” de 1974, com ironia ou não, as músicas desse álbum retratam uma verdadeira ilusão. Hoje, com a popularização dos veículos, as estradas podem até ser sinônimos de “mobilidade”, mas nunca de velocidade e muito menos liberdade, falo isso me referindo principalmente nos grandes centros urbanos, onde há os maiores índices de congestionamento.

Não sei se você já reparou nas campanhas publicitárias dos automóveis, se não reparou, observe, são lindas! Se você encontrar alguma, pelo menos uma propaganda que mostre algum congestionamento nela, comente aqui na postagem, você ganhará o livro. Você pode até encontrar, mas sabe o que eu quis dizer. As propagandas fascinam tanto que nos esquecemos da realidade, com facilidade de pagamento em até 666 vezes, o “pobre” se torna “rico” e esquece que fora de casa nos aguarda uma série de prejuízos, mas não somente o prejuízo financeiro, mas sim o de qualidade de vida. Buzinas, combustão, poluição e mortes! Por que nós somos escravos do carro e do trânsito? E o quê fazer?

Os textos exploram ao máximo essa pergunta. Uma delas como “A importância do carro para a economia moderna” aborda sobre a popularização do carro e sua importância econômica no pós-guerra. Com a política do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State) nos EUAs e o desenvolvimento do fordismo, aumentou-se o número de empregos, o poder de consumo dos operários e o acúmulo de capital pelas indústrias, principalmente as montadoras automobilísticas que dependiam de várias fontes primárias, principalmente o petróleo que até hoje é uma das Commodities mais cobiçadas no mercado global. A dependência da venda do carro na economia global é explicada pelo seguinte trecho: “A produção de um carro envolve uma grande gama de indústrias que vai desde a borracha, passando pelo aço, plástico, material elétrico, petróleo, junto com indústrias de apoio como as empreiteiras, a indústria da publicidade e financeira”. Ou seja, enquanto não houver mudança na base estrutural da economia moderna, o mercado “entupirá” cada vez mais carros na vida das pessoas.

Outro problema associado aos automóveis está ligado a ineficiência do transporte coletivo em muitos lugares do Brasil. O desconforto e a baixa demanda dos coletivos induzem as pessoas a utilizarem o transporte particular. O livro retrata o carro como uma propriedade privada que ocupa lugares públicos e transformam o carro, em espaço de alienação, segurança e isolamento. Na Alemanha nazista, assim que surgiu a famosa Volkswagen (carro do povo), os automóveis ficaram mais acessíveis o que provocou juntamente com a ruptura das comunidades operárias, uma nova forma de alienação e diminuição dos números de greves. Isso ocorreu devido à qualidade que os carros têm de isolar as pessoas e quebrar o contato social entre operários depois das jornadas.

O livro, com certeza, vai muito além do que foi refletido aqui e finaliza com soluções para evitar o uso do carro particular e nos sugere a espalhar essas idéias através de bicicletadas, massas críticas e outros meios que conduzem informações. Apocalipse Motorizado, sem dúvidas, deve ser referência para estudo em diversas instituições. Existe um ótimo site chamado “Apocalipse Motorizado” que contém um acervo de mídias a respespeito da anti-sociedade do automóvel, clique aqui para conferir!

Produzido por alunos de Audivisual do Centro Universitário Senac, o documentário "Entre Rios" de 2009 trás a tona a urbanização de São Paulo e suas consequências catastróficas que andam acontecendo, trazendo também uma análise sobre o urbanismo rodoviário que deu preferencia ao automóvel ao invés das pessoas e do meio ambiente. Hoje São Paulo paga por isso! Embora simples, é um excelente documentário, veja a seguir:



Nenhum comentário:

Postar um comentário