13 de abril de 2011

Literatura e Cinema - A Arte do EXORCISMO!

Por: Airton Rener

Influenciado pelos mitos, e claro, pela internet acabei me interessando em fazer a leitura do livro "O Exorci s ta", o que, ao contrário do que pensei, não foi arrependimento. O livro é um romance de Willian Peter Blatty publicado originalmente em 1971 e supostamente inspirado em um caso real de exorci s mo de um garoto com 13 anos de idade registrado no jornal Washington Post do qual era leitura diária do autor.

Não é por nada que a obra se tornou clássico da literatura estrangeira, publicado na década de 70 onde a sociedade era mais conservadora e supersticiosa do que os dias de hoje. Ler um livro que conta uma história de um caso de possessão demoníaca era uma coisa do outro mundo; ou você era muito cético ou você tinha que ser muito corajoso para ler, afinal, quem não gosta de sentir e superar seus medos?

Falando em medo, livros que causam medo de verdade são poucos, até porque é difícil de escrever uma obra que transmita isso com facilidade, talvez só mesmo o Willian Peter, afinal foi através de sua incrível criatividade que ele conseguiu fazer muita gente ficar sem dormir.

Fazendo uma generalização sobre o terror no livro. Este não está associado diretamente na hora da leitura, até porque são poucas as passagens assustadoras, o terror está ligado ao psicológico da pessoa, principalmente nas horas de vago mental. Você imagina as cenas relatadas com detalhes, e então você fica com medo; ou de ser possuído, ou de ficar no estado degradante de Regan, ou até mesmo de ver demônios por ai. Tentar explicar por qual motivo a maioria das pessoas sentiram tanto medo da obra “O exorcista” é uma tarefa difícil até porque isso é relativo, pois depende do psicológico de cada leitor.

Deixando de lado as perturbações e as superstições que o livro causa. Este nas primeiras paginas já começa com uma proposta inovadora e cativante/repugnante; no índice os capítulos são divididos e nomeados respectivamente em; O começo, À beira do abismo, O abismo, E que meus Rogos Cheguem a Ti. Representando em cada uma delas a gravidade da possessão de Regan e o desespero das pessoas próximas à ela.



A historia no livro, ao contrário do que muitos pensam, é mais complexa do que uma simples possessão demoníaca: Chris é uma linda atriz com sua ascendente carreiracinematográfica, recém separada de seu marido, mora sozinha junta à sua unica filha, Regan, uma garota dócil e "inocente" (ela é a menina que ficará louca ou será possuída). Chris está numa confraternização em sua casa quando inesperadamente algo estranho começa apresentar no comportamento de Regan. Supondo que Regan esteja em crise emocional decorrente da separação de seus pais, Chris leva sua filha ao psicólogo que sem um diagnóstico consistente o encaminha para médicos psiquiatras. É nesse contexto que Willian Peter revela todo seu conhecimento técnico-científico das áreas de psicologia e psiquiatria para "explicar o inexplicável" caso de Regan que só piora a cada dia. Apesar de Chris não acreditar na existência divina, fragilizada e em desespero, ela acaba recorrendo a um padre para fazer o exorcismo. Sem a certeza que Regan esteja possuída, o padre Karras não tem a autorização da Igreja pra fazer o ritual de libertação. É a partir daí que se encontra a complexidade do livro, por um lado cientistas não conseguem diagnosticar a doença de Regan, por outro o padre Karras, representando a Igreja, não tem a certeza de que Regan esteja realmente possuída. Ao mesmo tempo em que Karras investiga o suposto caso de endemoniamento, ele começa a frequentar a casa de Chris para dar força a ela, pois diante da degradação física de sua filha ela se encontra desesperada, abalada psicologicamente. Diferente do filme, no livro o padre é o protagonista. É por esses motivos que afirmo que livro "O exorcista" é experimentalmente um livro mais dramático que assustador.

Um ponto positivo e interessante do livro se encontra como referência no recente filme, O Último Exorcismo, do diretor Daniel Stamm (leia abaixo o trecho). No livro, Willian Peter afirma que a possessão de Regan pode estar associado a um efeito psicológico de auto-sugestão e que uma possível solução para o caso seria fazer um pseudo-exorcismo de Regan. Isso é claramente percebido nas cenas iniciais do O Último Exorcismo de 2010, onde um pastor, não acreditando em possessões demoníacas, decide fazer um documentário de um pseudo-exorcismo de uma jovem que ele acredita estar com distúrbios psicológicos.

"O exorcista" causou tanta polêmica que logo 2 anos depois ganhou uma versão cinematográfica. Estreado em 1973 e dirigido por William Friedkin, o filme segue fielmente a historia do livro, considerado uma das melhores adaptações da historia do cinema e o primeiro filme de terror a ser indicado ao Oscar de melhor filme. Mas mesmo transformando 50% das palavras de um livro em cenários, gestos e expressões, um longa de 120 minutos não permite adaptar com detalhes os outros 50% do livro no roteiro, o que, conseqüentemente, alguns detalhes relevantes passaram despercebidos ou até mesmo omitidos, como na maioria dos casos. Um exemplo disso é o envolvimento do detetive Kindermen na história, no livro ele investiga a morte sobrenatural de Burke Dennings, um amigo de Chris que é diretor do filme da qual ela estava trabalhando. Durante essa investigação Kindermen descobre fatos reveladores sobre rituais satânicos que tem uma ligação com o caso de Regan, sendo a principal suspeita. No filme Kindermen tem sua presença, mas não tanto reveladora quanto no livro, a investigação dele é um ponto-chave para genialidade de Willian Peter, é nesse desenrolar do enredo que o autor descreve sobre satanismo e magias negras. Veja abaixo esse trecho "extraordinário".

Transformando linhas em tela, o filme também tem suas qualidades. Embora a maquiagem de Regan ser mais exagerada do que descrita no livro, em contrapartida, acabou se tornando um ponto estético poderoso, talvez se não fosse a maquiagem, a imagem de Regan possuída não seria um dos ícones mais famoso da historia do cinema, tanto é, que as pessoas se referem a Regan possuída como "O exorcista", sendo que o exorcista é o padre. Mas não só de efeitos visuais que o filme é feito, o ambiente e a história central segue fielmente ao livro o que talvez se não fosse o roteiro do próprio autor poderia ter acontecido algumas distorções como acontece com a maioria dos livros que chegam as telas.

O filme tornou-se um dos mais lucrativos filmes de terror de todos os tempos, arrecadando o equivalente a U$ 402.000.000,00 em todo o mundo. "O exorcista" realmente merece ser um clássico, não por seus números, mas sim por ter reinventado a maneira de se fazer terror e efeitos especiais. Logo depois de seu sucesso, outros filmes abordaram o mesmo tema como A Profecia de 1976 e Terror Em Amityville de 1979, fazendo a década de 70 a época mais promissória do terror na sétima arte. Lembrando que os anos 70 foi marcado por outros clássicos do gênero como: Tubarão (1975), O Massacre da Serra Elétrica (1974), Halloween (1978) e Carrie, A Estranha (1976). Nenhum tão temido quanto"O Exorcista".

Hoje filmes de exorcismo se tornaram um subgênero do gênero terror/horror. Embora banalizados, há filmes de possessões que merecem destaques como O Exorcismo de Emily Rose (2005) e Requiem (2006), por abordarem um famoso caso verídico de Anneliese Michel, uma jovem que acreditava estar possuída por uma legião de demônios na década de 70. Logo depois de sua morte, os padres Ernest Alt e Arnold Renz, responsáveis pelo exorcismo de Anneliese, foram acusados de homicídio por terem permitido que a jovem não se drogasse com os medicamentos de seu tratamento de psicose e esquizofrenia, doenças pelas quais os médicos acreditavam ser a causa dos transtornos de Anne. Os padres se justificaram afirmando que a jovem não estava melhorando com os medicamentos e que o problema de Anneliese não era mental, mas sim, espiritual. Apesar dos padres apresentarem provas consistentes que a jovem estava possuída, os dois foram presos com uma sentença de seis meses. A razão desta vez se sobrepôs a fé.Embora os dois filmes se tratarem do mesmo caso, os dois se divergem na maneira de abordar o tema. Em “O exorcismo de Emily Rose” a historia está centrada nos julgamentos dos padres, onde a oposição entre a fé e ciência é bem enfatizada. O longa tem uma dose perfeita de dramaticidade e suspense, isso acontece pelo ótimo roteiro do filme que não se concentra apenas nas possessões de Emily, mas também nos julgamentos dos padres, onde é através dos relatos de testemunhas e advogados que Jennifer Carpenter interpretando Emily Rose, ganha cena. Já o filme “Requiem” é o mais realista possível, sem exageros e sem apelações visuais, neste filme a ciência e religião ficam em segundo plano, destacando assim, o lado mais pessoal e intimista de Michaela Klingler, interpretada por Sandra Hüller, sua belíssima atuação foi destaque no Festival Internacional de Cinema de Berlim em 2006 ganhando “Urso de Prata” por sua atuação. Você vai encontrar uma critica mais detalhada do filme aqui mesmo no blog, postado há meses atrás por Lucas Sá, clique aqui.

E pra finalizar essa postagem, fique com o clipe Rock it de Gorillaz. Neste clipe você verá uma citação direta de “O exorcista” onde logo no inicio do vídeo é apresentado a estatueta de PAZUZU, o demônio dos ventos na mitologia suméria, demônio do qual Regan foi possuída. Cuidado!!!



2 comentários:

  1. Caramba, tô esperando esse post desde o Natal do ano passado!! SUHAUHSUAHUSHUASUA Muito bom, adorei a pesquisa!

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  2. Que bom, bom post, eu realmente gosto de você. Estou no final com medo, mas eu gosto de terror ou suspense histórias e filmes exorcismos. Recentemente, vi The Vatican Tapes não geralmente pensam que é liberado em queda livre bater a cada clichês imagináveis em uma história de horror. De tudo isso, o mais interessante é uma cena em que ela cospe três ovos que representam a Santíssima Trindade. Poderíamos dizer que há material para contar uma história interessante, mas certamente com intenções não é suficiente. "Exorcistas No Vaticano" poderia ter tido melhor destino se o tom geral do filme era crua e cheia de deboche.

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