23 de maio de 2011

Contatos Quase Imediatos de 64º grau - Vencedores do Festival de Cannes 2011


Por: Lucas Sá

Não posso afirmar se os vencedores da 64ª do maior e mais respeitado festival do mundo, Cannes, foram bem atribuídos, claro, não vi nenhum dos filmes da mostra, mas tinha meus favoritos aos prêmios, diretores de longas datas e obras. O festival esse ano foi marcado por filmes que retratavam a sociedade em degradação, sobretudo atréves do olhar juvenil da adolescência, ao qual foi um dos grandes temas por grande parte dos filmes exibidos. Como em We Need to Talk About Kevin, da diretora Lynne Ramsay. O filme, baseado no livro de mesmo nome, retrata um casal lidando com os traumas e problemas de seu filho, o longa ganhou Menção especial pela qualidade da montagem e da banda sonora. Outro que caiu no mesmo tema foi Restless, do Gus Van Sant, que já tem certa tendência a essa abordagem em filmes anteriores, como em Elefante e Paranoid Park, mas Restless vai infelizmente para o candidato a cult-indie-cool-amelie-movie. Gus Van Sant que havia se mostrado tão preciso e eficiente em retratar essa faixa etária se entregou a banalização, se assemelhando ao filme 500 Dias com Ela, que já deu no saco com seu estilinho a lá ''coolzão" europeu. Assim, Gus Van Sant decai e rejeita o realismo de seu "palmarizado" filme Elefante, uma pena. Seguindo o mesmo fio temático temos os filmes dos irmãos Dardennes, O Menino da Bicicleta, e o australiano Snowtwon do diretor Justin Kurzel, que perturbou toda a sala em sua exibição na mostra paralela da Semana da Crítica, por seu realismo e imagens fortes, tanto pela a violência quanto pelas cenas de sexo. O Menino da Bicicleta dos Dardennes foi visto como um filme sentimentalista e simples, faturando o prêmio Grand Prix ex-aequo (Grande Prêmio) que foi dividido também entre o filme Era Uma Vez na Anatólia, do diretor turco Bilge Ceylan, que foi muito elogiado pela a crítica. O longa acompanha um grupo de homens da justiça turca que submetem a dois suspeitos algemados de assassinato a mostrarem onde enterraram o cadáver de sua vítima.

O Júri esse ano foi composto pelos atores e diretores, Uma Thurman, Jude Law, Olivier Assayas e Johnnie To, e foi presidido pelo olhar do veterano e excepcional ator Robert De Niro, que já participou 8 vezes do festival com suas atuações em filmes como Taxi Driver e A Missão, ambos vencedores da Palma de Ouro em 1976 e 1986. Robert De Niro começou seu discurso dizendo que foi uma escolha difícil e que tentaram fazer o melhor possível, frase bem típica de todos os anos. O júri escolheu como grande vencedor da Palma de Ouro o filme A Árvore Da Vida, do diretor norte-americano Terrence Malick. Malick surpreendeu a todos e gerou divisão entre o público e a crítica faminta de Cannes, muitos vaiaram e outros muitos aplaudiram ao fim da sessão. Algumas notas na internet defenderam o filme como um misto do lirismo de 2001 - Uma Odisséia no Espaço com o universo fantástico da animação da Disney Fantasia, ao qual foi a principal referência do diretor brasileiro Marco Dutra (Trabalhar Cansa e Um Ramo) ao ver o filme. Malick é um diretor de poucos filmes, de 1973 à 2011 fez somente cinco obras, como o elogiado Terra de Ninguém e o guerreristico Além da Linha Vermelha. A Árvore da Vida e seu estouro sonoro e sensorial estreará nos cinemas nacionais dia 24 de junho, exatamente daqui a cinco semanas.

E para não deixar de falar do sempre bem-vindo e polêmico Lars Von Trier... A sensação de Cannes, o furo da fofoca, a frase marcante, o cara que fala merda, e a nova frase que já entrou no meu vocabulário, "persona non grata". Todas essas palavras foram exibidas em vários sites e jornais à figura de Lars Von Trier, que em Cannes concorreu com Melancolia. Seu humor sádico foi uma das efervescências de Cannes esse ano, acho que até a maior, seu nazismo foi usado como marketing barato para sua nova obra, que em menos de um dia estava falada a cada canto, até mesmo pessoas não muito ligadas ao cinema vieram me perguntar: "Nossa! Você viu aquele cara que é nazista em Cannes?", bem espertinho o Sr. Trier. Em 2009, quando estava concorrendo com o também polêmico Anticristo, Lars Von Trier soltou outra frase de efeito, "Eu sou o melhor diretor do mundo!", esse ano ele resolveu se aperfeiçoar na sua arte e foi mais a fundo, com o nazismo e hitler. Se ele é o melhor diretor do mundo? Ainda tenho minhas dúvidas sobre isso, mas estou me convencendo cada vez mais dessa frase. Melancolia saiu do festival com o prêmio de Melhor Atriz para Kirsten Dunst, que já havia sido vaiada em Cannes pelo filme Maria Antonieta de Sofia Copolla. Fiquei meio cabreiro com a escolha de Dunst para o papel. Lars Von Trier é barra pesada e gosta de pegar atrizes do grande escalão hollywoodiano para suas produções, como Nicole Kidman em Dogville, a rumores de que foi Paul Thomas Anderson (Sangue Negro e Boogie Nights) que indicou a atriz para o diretor, papel que antes seria de Penélope Cruz. Mesmo todos achando que Melancolia não iria ganhar nada, ainda assim recebeu o prêmio que já é intimo e quase "parente" do diretor, Dançando no Escuro e Anticristo são exemplos deste fato, com seus prêmios de Melhor Atriz para as cantoras Bjork e Charlotte Gainsbourg, que já atuou em variados filmes, como em 21 gramas. Dunst ainda afirmou depois da premiação que vai ser a protagonista do próximo projeto de Lars, A Ninfomaníaca, ao lado de Charlotte Gainsbourg. O filme promete ser um misto de drama com pornô hadrcore, ao fim da entrevista ela disse: ''dane-se o diálogo! A gente quer saber é de sexo desconfortável!'' Será? Espero que sim!

Já o prêmio de melhor ator foi para Jean Dujardin, com o filme L'Artiste (O Artista) do diretor francês Michel Hazanavicius. O filme caminha pelo o cinema mudo dos anos 20, não só pela temática, mas como também em relação a parte estética desse cinema misterioso e encantador. L'Artiste respeita de forma rigorosa o seu argumento, com diálogos por meio de cartões e cores em tons de cinza, o clássico black and white. Michel Hazanavicius já havia feito dois filmes, Agente 117 e OSS 117: Rio ne répond plus, ambos uma paródia dos agentes secretos do cinema norte-americano, inclusive, o segundo se passa no Brasil, como já é citado no título, Jean Dujardin é também o protagonista em ambos. Hazanavicius, em L'Artiste, continua com seu tom humor paródico, só que desta vez mais leve e sentimental. Assim, o filme foi de certa forma um descarrego para os espectadores e realizadores que já estavam turbilhados por mensagens pessimistas sobre a sociedade. Hazanavicius é um diretor que mesmo sendo pouco conhecido e com poucas obras já se pode notar certos apegos estilísticos e temáticos, que no caso, em seu três longas, foi o cinema norte-americano de décadas anteriores, uma nostalgia que conforta. É interessante mencionar que o filme entrou de última hora na mostra competitiva oficial.

Um dos filmes que mais aguardo do festival é A Pele que Habito, do Almodóvar. O filme que é uma experiência a parte em relação aos trabalhos do diretor não foi recebido com muitos elogios ou atenção pelo o público e júri, sendo mais respeitado e admirado pelo o júri jovem do festival, recebendo o Prêmio da Juventude, este júri é composto por estudantes de cinema em sua maioria com 18 a 25 anos. Outro que caiu no gosto tanto do público jovem do festival como também dos críticos foi o filme Drive, de Nicolas Winding Refn. Drive é um se apega a grandes perseguições de carro, como em Vanishing Point. O filme acompanha um dublê de Hollywood Land e seu envolvimento com o crime organizado. Alguma semelhança com A Prova de Morte do Tarantino? Nicolas Winding Refn é dono de um cinema para "macho", seus filmes abordam sempre algo com força física, como em seu filme Bronson, ou violência urbana, como na trilogia Pusher. O longa saiu com um dos prêmios mais importantes da noite, o de Melhor Diretor. Já o filme Polisse da bela atriz e agora diretora Maïwenn Le Besco, recebeu o Prêmio do Júri. Maïwenn Le Besco é uma atriz francesa que já atuou em O Quinto Elemento no papel da ET azul que canta ópera ( uma cena memorável), e também no ótimo horror de Alexandre Aja, Alta Tensão. Em Polisse, ao qual também atua, ela procurou analisar o trabalho da polícia parisiense e seu relacionamento com os caos de pedofilia e maus tratos contra crianças.

A Mostra competitiva Um Certo Olhar foi presidido pelo cineasta sérvio Emir Kusturica, que já ganhou duas Palmas de Ouro. O Prémio Um Certo Olhar esse ano foi dividido por dois filmes, algo que está se tornando constante no festival, o longa intimista Arirang de Kim Ki-Duk, e Stopped on Track de Andreas Dresen. Em Arirang o próprio diretor Kim Ki-Duk se filmou, em uma espécie de auto-documentário, já Stopped on Track é um filme sobre um homem que está prestes a morrer pelo seu grave câncer. O filme nacional Trabalhar Cansa, da dupla Marco Dutra e Juliana Rojas, não levou nenhum prêmio, os "parceiros" já realizaram um curta premiado em Cannes, Um Ramo (crítica aqui). Esse ano o Brasil entrou na competição com quatro filmes, Trabalhar Cansa na mostra Um Certo Olhar, Abismo Prateado (Karim Aïnouz) na Quinzena dos Realizadores, Permanências na Semana da Crítica e Duelo Antes da Noite de Alice Furtado na mostra Cinefondation de curtas universitários.

Só uma coisa, cadê os prêmios do Takashi Miike? Esqueceram dele... Como sempre.

Agradeço aos blogs do diretor Kleber Mendonça, o CinemaScópio, e do crítico Luiz Carlos Merten (link aqui), por me oferecerem esses Contatos Quase Imediatos de 64º grau com o Festival.

COMPETIÇÃO OFICIAL

PALMA DE OURO
- A Árvore da Vida, de Terrence Malick

GRANDE PRÊMIO
- O Garoto de Bicicleta, dos Dardenne & Era Uma Vez na Anatólia, de Nuri Ceylan

MELHOR DIREÇÃO
- Drive, de Nicolas Refn

PRÊMIO DO JÚRI - Poliss, de Maïwenn le Besco

MELHOR ATOR
- Jean Dujardin, por L'Artiste

MELHOR ATRIZ - Kirsten Dunst, por Melancolia

MELHOR ROTEIRO - Hearat Shulayim, de Joseph Cedar

CÂMERA DE OURO
- Las Acacias, de Pablo Giorgelli

UM CERTO OLHAR

PRÊMIO UM CERTO OLHAR
- Arirang, de Kim Ki-Duk & Stopped on Track, de Andreas Dresen

PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI - Elena, de Andrey Zvyagintsev

MELHOR DIREÇÃO
- Au revoir, de Mohammad Rasoulof

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