15 de fevereiro de 2011

Música - FEVER RAY, o som das entranhas




Por: Lucas Sá

Com apenas um cd lançado, e talvez o último, o projeto solo chamado Fever Ray é grandioso. Composto por Karin Dreijer, uma dos dois integrantes da famosa banda sueca eletrônica The Knife. Karin Dreijer e seu irmão, Olof Dreijer, que desde 2001 estiveram juntos na banda The Knife, resolveram em 2008 se afastarem por um tempo da sua já prestigiada banda para ambos se envolverem em projetos paralelos em outros campos diversos. Karin Dreijer então resolve lançar Fever Ray, que é misto de suas experiências pessoais com alusão ao um mundo místico criado esteticamente.

"Febre do Raio", está é a tradução mais semelhante para o nome que comporta essa vivência solo da cantora Karin Dreijer. Este nome sintetiza de forma precisa a proposta dessa nova fase musical da artista. As melodias do álbum nos remetem a algo da natureza, retirado das entranhas das florestas, se afastando do high tecno e da modernidade sinfônica de seus trabalhos anteriores. Em Fever Ray, as nossas origens se revelam de forma sonora, nos levando a acreditar que a música feita tem um estado sinestésico. O uso de sons ambientes e de vozes graves ao longo das faixas é um exemplo deste efeito sinestésico que persiste durante todo o cd. Essas vozes graves se aproximam de rituais indígenas, reforçando assim, o tom naturalista e tribal da obra. Isso é percebido de forma ampla na primeira faixa do cd, If I Had A Heart. Outra vertente que se percebe durante a projeção é a fixação de uma transportação do ouvinte a um ambiente dark e por vezes depressivo, onde as memórias e os dramas são relembrados. Na faixa, Keep The Streets Empty For Me, que sem muitos esforços se revela a melhor do álbum em sua intenção, a de sinestesia, se mostra bastante ligada a essa questão das lembranças e memórias, como no trecho:


" Memórias vêm quando são antigas
Eu nunca sou a primeira a saber
Seguindo a correnteza que leva ao norte
Onde pessoas como nós flutuam "

" Há lugar em meu colo
Para hematomas, glúteos e palmas da mão
Eu jamais desaparecerei
Estarei aqui para sempre "


As letras compostas pela própria Karin Dreijer têm um comportamento intimista, exprimindo fatos e lugares momentâneos que dificultam o raciocínio convencional do ouvinte. Neste ponto, as composições de Fever Ray se revelam de certa forma surrealistas, intensificando assim, o estado de imersão. As imagens imaginárias são também características intensas nas letras. Karin Dreijer utiliza lugares e palavras constantes que nos remete ao clima frio e solitário dos campos da Suécia, país natal da cantora. Palavras como; neve, gelo, água, musgo, mar e floresta, são usadas praticamente em todas as faixas. Esses elementos naturais fazem parte deste clima sueco, o que afeta de forma impreterível as intenções e composições de Fever Ray. As influências do álbum vão desde as músicas indígenas e passa até mesmo pelo cinema. Essa inspiração cinematográfica é visível principalmente no caráter surreal das músicas, onde em entrevistas, Karin falou que uma de suas influências primárias são os filmes do diretor David Lynch. Nada mais coerente do que tal afirmação, já que Lynch e seus filmes são intimamente ligados a um universo paralelo e esquizofrênico que se mantêm sempre de forma complexa por meio de imagens e cenas desconexas. Outra e inusitada influência revelada é a série televisiva Miami Vice, onde Karin Dreijer afirmou ser uma forma de " referência cultural ". A banda Fugazi e o cantor Mike Patton também serviram de inspiração para o álbum.

O som não é o único a ser explorado em Fever Ray, logo o VISUAL é um elemento de impacto e que acaba se tornando inseparável do conjunto complexo formado por Karin Dreijer. O artista, Andreas Nilsson, que já trabalhou com MGMT e Moby, esteve junto com a cantora desde sua banda, The Knife, dirigindo vários clipes. Mas em Fever Ray, Andreas Nilsson e Karin, se uniram para formular uma certa imagem incógnita da pessoa por trás das vozes da '' floresta ''. Assim, ambos criaram uma figura que não se apresenta de forma real, optando pelo uso de máscaras rústicas, desenhos corporais e pele pálida. Nos clipes das faixas When I Grow Up e If I Had A Heart esses apetrexos são usados em determinadas cenas, afirmando a temática indígena e a aproximação com os elementos naturais, água, neve, vento e madeira. Os vídeos musicais não são apenas para promover o produto, mas são uma forma de complementação da música, fazendo com que as imagens que estão presentes nas letras sejam materializadas. Assim, Fever Ray se torna um conjunto audiovisual, onde o áudio e o visual se completam por si, para criar um universo paralelo. Neste sentido, Karin Dreijer, não se manifesta como a cantora ou porta-voz das músicas, mas como um corpo performático que transporta essas melodias e vozes, anulando a imagem de um artista protagonista.



A respeito da nova sonoridade e letras, Fever Ray se afasta quase que por completo de The Knife (a nao ser por alguns timbres de voz). Os toques eletrônicos usadas nas composições das músicas de The Knife são amenizados no novo projeto, afirmando a busca pela neutralidade sonora que Karin Dreijer desejava. Mas ainda assim, restam vestígios da influência eletrônica nas músicas de Fever Ray, que podem ser percebidas em quase todas as faixas, mas sempre de forma suave, como em: Dry And Dusty e Seven. Essa distância em relação a banda The Knife pode ser percebida também no vocal. A voz de Karin Dreijer durante as canções é aguda e tremula, se revelando quase como ruídos fanhos, sendo que por vezes é alternada por passagens em que sua voz é distorcida digitalmente, se tornando grave e máscula. Nas faixas, Concrete Walls e If I Had A Heart, essa voz máscula e extremamente estranha atua como elemento para manter um tom obscuro e denso.

Essa irreverência artística fez com que Fever Ray fosse eleita pelo site Dummymag.com a artista do ano, em 2009, e no ano seguinte ganhou um prêmio pelo álbum na celebração do P3 Guld, uma premiação da rádio pública sueca. Mas o fato que foi deveras interessante no P3 Guld é que Fever Ray (Karin Dreijer) recebeu o prêmio de modo, digamos, bizarro. Ela estava com um véu vermelho sob o rosto, mas quando foi agradecer ao o público pelo o prêmio ela o levantou... E o que se viu foi um ser estranho que parece ter saído de algum filme B alienígena. Isso afirma a posição de Karin Dreijer sob o artista em Fever Ray, não é o cantor ou o artista o centro do projeto, e sim a música! Não foi Karin que recebeu o prêmio, mas sim todo o universo experimental de FEVER RAY!

5 comentários:

  1. Olá. Vim da comunidade Fever Ray!

    Gostei da sua review, mas queria citar uns pontos que não me agradaram no geral, espero que entenda. As cores e a tipografia escolhidas dificultam muito a leitura! E quando for colocar um trecho de música, eu acho mais adequado colocar em inglês mesmo, a tradução pode sair ruim (há lugar em meu colo para hematomas, glúteos e palmas da mão = ruim).

    E só uma correção em tempo, é Karin Dreijer, não Katie.

    Abraços.

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  2. Gostei rs concordo com o comentário acima rs adoro Fever ray

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  3. Obrigado pelas correções!

    Nossa eu errei feio no "Katie", não sei de onde eu tirei esse nome. hahaha

    Obrigado.

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  4. Fever Ray tem os sons mais sensacionais que já ouvi. Incrivelmente mágico. Quando ouço, me transporto para as florestas geladas da Suécia e deixo morrer sentindo o vento e o odor do musgo das árvores. A entrada de cada instrumento, assim como, das vozes nas músicas são perfeitamente encaixados. Não há falhas. Tudo está em harmonia!

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  5. Obrigado Cléber!
    Eu me sinto bem assim também com a sonoridade das músicas. É Incrível.
    Tô fazendo uma regravação oda cena do filme "Amore Imaginários" para a faculdade, no final eu coloquei uma das músicas do Fever Ray que toca no filme, em breve (nessa quarta) ela estará no blog! Espero que goste.
    Até...

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