18 de abril de 2011

Cinema: A Atenção - O kino luneta

Por: Lucas Sá

O foco central em certas referências é um sentido incorporado que permite que o espectador tenha uma relação "única" com o cinema. Munsterberg, o maior pensador da atenção no cinema, defende a idéia de que a atenção se relaciona individualmente com cada meio. O teatro e o cinema sempre foram contestados entre si, tanto por suas diferenças quanto por suas proximidades. O teatro, no início do amadurecimento do cinema, via essa nova arte como inferior e questionava suas técnicas e artifícios de ilusão, que alienavam o olhar do público em imagens. Munsterberg então, se permitiu defender as entranhas das diferenças entre cinema e teatro, o qual se dedicou excessivamente, praticando certa rivalidade intelectual, algo como: Teatro X Cinema. Dentre essas diferenças, o conceito de "atenção" é um dos reinantes.

A atenção é um reflexo subjetivo do homem que o permite criar um significado ao mundo que o cerca, o exterior. Sua ausência seria danosa ao individualismo de personalidade, algo relacionado ao embasamento do foco mental, ou seja, um vazio rebuscado. O teatro, que tem sua ação em um palco, se demostra amplo, no sentido de espaço entre o olho e a ação. Essa amplitude da área ficcional provoca uma sensação menos intensa de atenção, pois não permite perceber certos detalhes ou até mesmo expressões faciais, que são decisivas para englobar a platéia no contexto emocional. Um personagem teatral que recebe a notícia que seu filho morreu na escola com um tiro na cabeça por um assassino, irá fazer primeiramente uma expressão de tristeza/surpresa em sua face, que introduzirá a tendência ao choro. Espectadores que estiverem, talvez, da quarta fila a diante no teatro, provavelmente não irão perceber a primeira mudança facial da atriz/ator, consequentemente, essa cena, que era para transpor uma sensação de grande impacto na platéia, não terá a mesma intensidade, já que grande parte das pessoas não pôde esforça a atenção focal para a ação, devido a uma questão espacial. É devido a isso que os atores no teatro se preparam fisicamente e oralmente, já que sua voz e suas expressões exageradas precisam ser ao máximo o ponto mor da visão. O cinema, em contrapartida, através de meios técnicos, como a montagem e o movimento de câmera, permite que essa relação de atenção entre o espectador e a ação seja mais dinâmica. A montagem, inquestionavelmente, permite uma maior mobilidade de intervenção na imagem, isso faz com que planos e sequências sejam organizados para se submeterem a uma reação imediata do espectador, ou seja, sua atenção sensibilizada para uma imagem pré-moldada. O plano detalhe e o primeiríssimo plano, são outros meios de se manipular a atenção do público, pois através do movimento ou do zoom da câmera a um objeto, essa imagem se tornará mais perceptível ao olho humano, o que antes era precário no teatro. Fato que incorpora o cinema, mais do que o teatro, a um meio suscetível a aprovação de um sentimento intenso e transparente, que tanto Edgar Morin defende em suas teorias.Munsterberg, em seus estudos, também afirma que a atenção pode ser desviada em duas vertentes teóricas. A atenção voluntária e a involuntária. “A atenção é voluntária quando nos acercamos das impressões com uma idéia preconcebida de onde queremos colocar foco..." (A Experiência do Cinema, p.28). Essa premissa parte da noção de que o homem tem a vontade ou desejo de observar o exterior a partir de vontades próprias, tornando essa variação da atenção intimista e específica. Já a atenção involuntária sofre uma reversão ideológica, pois seu foco se revela de forma mais exterior e supérflua. O involuntário é mais generalizado e banal, é natural do homem, se assemelhando a reflexos primitivos em descontrole. Desde sempre o marketing atual se apegou a esse tipo de atenção, que busca o espetáculo, como já dizia Guy Debord em seu livro, A Sociedade do Espetáculo. Sons espalhafatosos, luzes neon piscando e brilhos exuberantes fazem parte desse involuntarismo focal. Talvez este seja um dos motivos do sucesso das superproduções Hollywoodianas, seus efeitos digitais e sonoros possibilitam análises menos rígidas. Sendo assim, filmes como, Star Wars e Jurassic Park, foram sucesso de bilheteria, pois provocam um estado de imparcialidade metal no espectador.

Estabelecendo uma posição mais igualitária entre esses dois desvios da atenção. Munsterberg, afirma que durante o dia-a-dia a atenção voluntária e involuntária permanecem sempre juntas, mas é nesse contexto que se gera outro questionamento irreverente:


"Não seria possível dizer que se eliminou da esfera da arte a atenção voluntária e que a platéia está necessariamente atrelada a uma atenção que recebe todas as deixas da própria obra dearte e portanto é involuntária?" (A Experiência do Cinema, p. 29)

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