O visual de Almodóvar está sempre unindo o objeto e as cores ao roteiro. Em A Pele que Habito, o teor sexual é a força motriz da trama, atrelada também a vingança. Mas além do ato do coito físico esse elemento está presente, sobretudo, no figurino exacerbado.
O estilista Jean-Paul Gaultier, que já trabalhou em outros dois filmes de Almodóvar, Kika e Má Educação, é responsável pelo figurino mais expressivo de A Pele que Habito. Assim como em Má Educação, onde realizou o vestido de Zahara com pelos pubianos, Gauldier pensa o figurino atrelando o teor sexual ao tecido. Sua participação é sempre pontual, fabricando apenas algumas peças para o filme, uma ou duas. Nesta nova produção ele produziu as vestimentas de Vera em sua reabilitação/prisão e a roupa carnavalesca de tigre do irmão tarado, Zeca. E são nessas roupas que se encontram os discretos símbolos fálicos...
A desconcertante cena da aparição de Zeca vestido de Tigre é a primeira delas. O seu rabo por si só já representa um volume sexual, mas é quando Zeca consegue dominar Vera e tirar sua roupa é que podem ser analisadas mais de perto suas vestimentas, em um plano das roupas jogadas no chão. Reparem na ponta do rabo do "tigrinho".
Outra cena, mais expositiva, é quando depois da operação total do corpo de Vera o Dr. Robert retira a mascara de proteção de látex do rosto da jovem. Os prolongamentos da boca ao nariz formam mais um clássico símbolo fálico.
O objeto em A Pele que Habito também é utilizado como metáfora visual. Na cena em que o Dr. Robert apresenta como deve ser tratada a vagina intrometida, é utilizada uma espécie de corpo cilíndrico para introduzir no canal e separar os lábios. A cena se estende, e em um plano ela se coloca atrás dos variados tamanhos do objeto cilíndrico, revelando uma profundidade entre o personagem e o objeto, o que seriam grades de uma prisão sexual.
Eu só digo uma coisa... Essa obsessão por símbolos fálicos de Almodóvar só não é mais interessante do que as de Ken Russel (Lisztomania) e de Robin Hardy (O Homem de Palha).
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