A idéia de convergência nas artes é acompanhada desde sempre por revoltadas em relação aos mais conservadores do meio. Essa postura persistente em relação às novidades que sucedem as décadas é fruto de um classicismo utópico, que prioriza as formas puras e originais de produção, buscando assim, a “especificidade’’ de cada meio, ou seja, a sua distinção dos demais, o seu “núcleo duro’’.
Arlindo Machado em seu livro, Arte e Mídia, afirma logo de principio que: “A arte sempre foi produzida com os meios de seu tempo’’ (MACHADO, 2008 p. 9). Acontece que no nosso tempo as formas e os meios de produção sofrem uma expansão alarmante, assim, distinguir as obras por meio de suas formas de execução se tornou algo complexo, a ponto de não ser identificável com clareza de onde termina ou começa as bordas e os núcleos do gráfico de interseção dos meios. Raymond Bellour, grande pensador sobre a convergência das artes, comenta que não se pode mais afirmar como antes: “ O cinema. A fotografia. A pintura... ’’ Pois esses meios se entrelaçam em um conjunto, o que provoca o aceleramento do processo de englobamento das bordas do gráfico de divergência. Gene Youngblood, pensador que apresenta em seu próprio sobrenome (sangue jovem) o conceito de seus questionamentos modernistas, chama este novo momento do cinema de: Cinema expandido. Esta nomenclatura passa a se fortificar no momento em que o cinema se rompe de sua base clássica, a fotográfica, para se introduzir em outros meios. Logo, o cinema assume outro comportamento distinto de sua origem primitiva, o de audiovisual.
A própria relação do conceito de ‘’plano’’ em relação ao cinema moderno é questionável, pois na sua estrutura atual se identifica a sobreposição de inúmeros planos em um único. Isso foi possível, impreterivelmente, através dos avanços dos softwares de edição, que por meio da timeline proporcionam ao artista ferramentas capazes de realizar um certo “realismo digital”. Os recentes filmes, Cisne Negro (Black Swan, FOX, 2010), Filme Socialismo (Film Socialisme, Vega Film, 2010) e Avatar (Avatar, FOX, 2009), são exemplos majestosos do abuso do digital e deste entrelaçamento de planos e de meios, reais e digitais, que ao se fixarem geram efeitos sinestésicos no espectador.
Sinestesia é uma das palavras chaves para o atual momento conturbado do cinema. Esta é uma das exclamações reflexivas de Machado em Arte e Mídia, o que prova que os efeitos desta miscigenação dos meios (música, fotográfica, pintura, cinema...) proporciona um estado de transgressão, tanto para o público quando para o rígido cinema clássico.
Referências e fonte - MACHADO, Arlindo, Arte e Mídia. 2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008
Nenhum comentário:
Postar um comentário