30 de janeiro de 2011

Cinema - I Am Love


Por: Lucas Sá

O luxo de uma mansão e de jantares a noite abrigam certos segredos familiares que a qualquer instante podem ser revelados por detalhes significativos... Detalhes que podem desagregar empresas e amores desgastados. I Am Love, novo filme do diretor italiano Luca Guadagnino (Lucas?) se comporta como um bom romance de traição que se sustenta nos detalhes de cena e na atuação estupenda de Tilda Swinton.

Luca Guadagnino, que em seu longa anterior, baseado no livro Melissa P. , 100 Escovadas Antes de Dormir, não foi bem aceito em seu primeiro trabalho, sendo o longa uma iniciativa negativa para a carreira de Luca. Mas com I Am Love esse quadro se amenizou. Como garantia disso, o filme já rodou em vários festivais como, Berlim e Veneza, além de receber indicações ao Globo de Ouro e ao Oscar. Este foi um bom ano para o jovem e novato Luca, que dividiu a crítica e recebeu apoio e indicações em vários eventos importantes.

Emma Recchi (Tild Swinton) nasceu na Rússia, mas que por conta de amores constantes, acaba indo morar na Itália, e se casa com o rico empresário Tancredi Recchi (Pippo Delbono). Emma tem um casamento abalado por falta de emoções que façam reviver um antigo sentimento despedaçado pelo tempo. Por motivos pessoais ela se apaixona pelo jovem cozinheiro Antonio Biscaglia, amigo de seu filho. Entre jantares e pratos deliciosos, Emma se distância dos seus afetados e venenosos familiares. O dinheiro, é sem questionamentos, o verdadeiro motivo destas reuniões parentais. Quem será o herdeiro da mina de ouro? Edoardo Recchi Jr., filho de Emma, que namora uma jovem desprovida de capital. Isto alerta perigo... Filhos, herdeiros, heranças. I Am Love, se torna então, um conto sobre a futilidade e frustrações de sentimentos da burguesia italiana.

Luca Guadagnino, que desta vez assume o papel de diretor e roteirista, nos entrega uma história nada original, mas que ao longo da projeção, principalmente na cena final, nos surpreende pelo o rumo e ações que os personagens levam. Os primeiros minutos do longa se integram em um suntuoso jantar, revela certos costumes e sentimentos dos personagens. Está é uma das melhores cenas, chega a lembrar o ótimo Festa de Família, de Thomas Vinterberg. Se compararmos os dois, até existem certas semelhanças, na questão dos jantares e chacota entre parentes, mas não passa disso. Voltando ao roteiro. Luca conduz o romance e acontecimentos de forma natural, sem nenhum elemento surpresa, mas sempre de forma elegante. É neste quesito que o filme se torna comum, se salvando pelo estilo e a forma como as cenas são conduzidas. Mas Luca, não faz isso à toa. Ele utiliza essa mesmice como pretexto para construir e elevar o filme ao grau máximo, que se revela na poderosa cena final.Está cena envolve toda a carga de sentimentos de I Am Love, fazendo com que o espectador, que a essa altura já não se interessava mais pelo o que iria ocorrer, mude seu comportamento e se mantenha emocionado e aflito com o rumo de Emma. E tudo isso se deve quase que 75% à poderosa trilha sonora de John Adams. E os outros 25% se direcionam para a atuação dos atores, sobretudo, Tilda Swinton. Sendo que este se tornou o seu melhor papel, para quem antes era mais conhecida pelo público apenas como A Rainha Branca de As Crônicas de Nárnia, ou como o anjo Gabriel em Constantine. Tilda, como sempre, se revela uma atriz centrada, e chega até a causar arrepios com sua personalidade fria e expressões misteriosas. Fato que contribuiu de forma significativa para o papel da personagem Emma, já que esta, é uma mulher madura e que por sua educação Russa vive de forma rígida em seu ciclo de luxo e lixo. Ótima escolha de Luca para a protagonista, não tinha como ser melhor.

De certo modo o direcionamento que o filme recebe no final se confronta com seu início e meio. Devido Luca ter optado por um final rápido e incógnito, para quem não percebeu certos mínimos detalhes, fica difícil captar a idéia. Sendo que estes detalhes serão de grande utilidade neste sublime prólogo. A música é intensa e os gestos são reveladores, já que neste momento as palavras são suprimidas, e o movimento reina. Muitos questionaram e odiaram a cena, mas é ela que salva o filme quase que por completo. De início estava achando I Am Love meia boca até está cena se apresentar, e foi a partir dai que entendi as intenções da direção.

O classicismo que o filme persiste em se manter, não é puro. Ocorre uma fusão entre estilos. O modernismo se aliando ao classicismo. O belíssimo figurino se reveza entre Michelangelo a Andy Warhol, tendo a indicação do Oscar sendo justa, a de melhor figurino. Mas não é só no figurino que está união permanece. Luca tenta aliar, além do visual, o estilo dos filmes e diretores do antigo cinema Itáliano. Principalmente o consagrado e virtuoso Federico Fellini. Talvez este seja o motivo do roteiro se tornar meio desmantelado. O resgate da nostalgia do cinema italiano se confrontando com a modernidade.

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